SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

domingo, 19 de abril de 2020

HOMILIA DOMINICAL - 1º Domingo depois da Páscoa

   Leituras: Primeira Epístola de São João 5, 4-10)
                   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João 20, 19-31: 

   
   
"Naquele tempo, chegada já a tarde daquele dia, que era o primeiro dia da semana, e estando fechadas as portas do lugar onde se achavam reunidos os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio deles, disse-lhes: A paz esteja convosco. E dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Alegraram-se muito os discípulos, vendo o Senhor. Disse-lhes Jesus outra vez: A paz esteja convosco.  Assim como meu Pai me enviou, assim também eu vos envio. Ditas estas palavras, soprou sobre eles, dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo. Os pecados daqueles a quem perdoardes ser-lhes-ão perdoados: os pecados a quem retiverdes, ser-lhes-ão retidos. Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles, quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor" Ele, porém, lhes disse: Se eu não vir em suas mãos o sinal dos cravos, se não introduzir o meu dedo no lugar dos cravos, e se mão meter minha mão em seu lado, não acreditarei. Oito dias depois, estavam os discípulos de Jesus outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Veio Jesus, , estando as portas fechadas. E pondo-se no meio deles, disse: A paz esteja convosco! Depois disse a Tomé: Coloca aqui o teu dedo, o vê as minhas mãos; chega também a tua mão e mete-a em meu lado; não sejas incrédulo, mas fiel. Respondeu Tomé e disse-Lhe: Meu Senhor e meu Deus! Disse-lhe Jesus: Tu creste, ó Tomé, porque viste; bem-aventurados os que não viram e, creram; Jesus fez ainda, em presença dos discípulos muitos outros milagres, que não foram escritos neste livro. Estes, porém foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus; e para que, crendo, tenhais a vida em seu Nome."


Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

  Quantos assuntos de meditação nos oferece o Santo Evangelho de hoje: A Bondade e Misericórdia do Coração de Jesus, a paz, a fé, o Sacramento da Penitência! 

   Com a graça de Deus vamos falar sobre a Misericórdia. Como são assuntos que se entrelaçam, falaremos  de passagem também sobre os demais. 

   Caríssimos, a Misericórdia divina é infinita. Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e tenha a vida eterna. Deus espera com paciência o pecador; vai a procura dele com toda solicitude; e recebe com toda alegria o pecador arrependido.  Os Apóstolos estavam sem paz: haviam pecado, abandonado o Mestre, estavam fechados numa casa com medo dos judeus. Jesus ressuscitado lhes aparece. Suas primeiras palavras não foram de repreensão, foram de paz: A paz esteja convosco! Como Jesus é bom!. A paz é um dom tão precioso que sobrepuja todo entendimento humano. Jesus quer que seus discípulos tenham a paz e dá a eles o poder de transmiti-la a todos os pecadores arrependidos: dá-lhes o poder de perdoar os pecados. É o tribunal da misericórdia em que o próprio réu se acusa, mas para ser perdoado. Caríssimos, é o sangue de Jesus Cristo que banha e lava a nossa alma. Não vemos, mas tenhamos fé: "A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados". Façamos um profundo ato de fé: Deus ama-nos com amor infinito, distinto, imutável, se não me afasto d'Ele por um ato consciente de minha livre vontade, como infelizmente fez Judas Iscariotes. Este infeliz apóstolo até se arrependeu, mas não confiou na bondade do Coração de Jesus.

   Ensina a fé que Deus é misericórdia e que por esse motivo se inclina com tanto mais amor para nós quanto mais reconhecermos as nossas misérias: porque a miséria atrai a misericórdia. Invocá-Lo com confiança, é afinal honrá-Lo, é proclamar que Ele é a fonte de todos os bens e nada tanto deseja como conceder-no-los. É por isso que na Sagrada Escritura nos declara vezes sem conta que defere as súplicas dos que esperam n'Ele: "Porque esperou em mim, livrá-lo-ei; protegê-lo-ei, porque conheceu o meu nome" (Sl. XC, 14). Nosso Senhor Jesus Cristo convida-nos a orar com confiança; e, para inculcar esta disposição, recorre não somente às exortações mais insistentes, mas ainda às parábolas mais comovedoras. Ele possui o mais perfeito coração humano, o mais terno, o mais amante, o mais desejoso de praticar o bem, o mais sensível ao esquecimento e à ingratidão. Quando Jesus Cristo pode encontrar uma alma completamente confiante n'Ele e convencida de sua própria miséria, não há maravilhas que não opere nela.

   Quando o sentimento de nossas misérias nos inquietar, meditemos estas palavras de São Vicente de Paulo: "Representais-me as vossas misérias. E quem não se encontra, infelizmente, cheio delas? Tudo está em as conhecer e amar a abjeção que as acompanha, como vós fazeis, sem se deter mais que para nelas estabelecer o fundamento bem firme duma grande confiança em Deus; porque então o edifício levanta-se sobre rocha, de sorte que, ao rugir a tempestade, fica imóvel".  Na verdade, as nossas misérias atraem, efetivamente, a misericórdia divina, quando a invocamos com humildade, e não fazem senão pôr-nos na melhor disposição para recebermos as graças divinas. São Vicente acrescentava que, quando Deus começou a fazer bem a uma criatura, não cessa de lho continuar a fazer até o fim, se ela se não torna excessivamente indigna dele. Assim, as misericórdias passadas são penhor das futuras.

   Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro; pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. Meu Jesus, misericórdia! Jesus, eu confio em Vós! Amém!

domingo, 12 de abril de 2020

SERMÃO DA RESSURREIÇÃO

Surrexit, alleluia!  Ressuscitou, aleluia!

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo! 

   Uma Feliz e Santa Páscoa a todos!

   Pelas três horas da tarde, na sexta-feira Santa, estando tudo consumado, inclinando a cabeça Jesus rendeu o espírito. Suspenso entre o céu e a terra Jesus estava realmente morto. A obra ímpia dos filhos das trevas estava consumada. O Salvador do mundo tinha exalado o último suspiro. Seu corpo, descido da cruz, tinha sido colocado num sepulcro. Os fariseus triunfavam. Viram a seus pés o cadáver ensanguentado e inânime de Jesus a quem tanto odiavam. Nos arraiais dos escribas e fariseus a alegria era geral, embora mesclada de um certo temor. Pois Jesus tinha ressuscitado o jovem de Naim, a filha de Jairo e Lázaro. E isso agora pouco importaria se Jesus não tivesse também predito sua própria ressurreição: "Ao terceiro dia o Filho do Homem ressurgirá". Sua desconfiança, portanto, não era de todo infundada. Impunha-se máxima cautela.
   Antes prevenir que remediar. Cuidadosos, fariseus e escribas puseram guardas em redor do túmulo. Selaram a tampa com o selo da nação. Deixaram ordens severas ao pelotão dos soldados. Retiraram-se satisfeitos. 
  Vede homens cegos e insensatos, quereis ligar o Verbo Eterno. Credes selar para todo sempre nas entranhas da terra a Religião de Cristo!?
 Três dias depois, era de madrugada. As estrelas iam desmaiando uma após outra na cúpula celeste. Meigos clarões de uma linda aurora purpurizavam as nuvens. Os passarinhos começavam a pipilar nos arbustos. O sol não tardaria a dourar os píncaros do Calvário.
    E eis que a terra treme, a pedra sepulcral é retirada, os guardas caem por terra como mortos. Jesus Cristo sai glorioso do túmulo. Surrexit! Ressuscitou! Sua alma pelo poder da divindade unira-se de novo ao  corpo, o qual se levanta majestoso, saindo triunfante do sepulcro. Surrexit! Alleluia! Ressuscitou! Aleluia! Que palavra!!! meus irmãos!!! Vinte séculos são passados que ela se fez ouvir pela primeira vez sobre um túmulo vazio. Um anjo a disse a algumas mulheres, estas a alguns discípulos e estes a toda Jerusalém. De Jerusalém ela passou pelas nações e percorreu rapidamente a terra inteira. E sob a ação desta palavra tudo se muda: o velho mundo desmorona-se, os velhos costumes caem-se, um mundo novo se eleva, novos costumes florescem. A humanidade regenerada sente um sangue novo circular em suas veias. 
    Surrexit! Ressuscitou! E depois, cada ano, num dia marcado a Igreja repete esta palavra. Ela a canta em seus cânticos. Ela a diz em suas orações. Ela a proclama em seus ensinamentos. Ela a lança com entusiasmo nas abóbodas de seus templos. E os ecos sagrados, a voz dos fiéis e os instrumentos religiosos a repetem: Surrexit! Ressuscitou! Alleluia, Alleluia! A esta palavra o gozo renasce em todos os corações, a felicidade se pinta em todos os olhares, o luto da Santa Quaresma desaparece. Os altares se cobrem de flores, os sacerdotes entoam novamente seus cânticos de alegria. Alleluia! Repicam os sinos nos céus de primavera em cada ângulo do mundo, sob todas as latitudes!!!

   Mas, caríssimos e amados irmãos, por que este gozo universal? É porque a Ressurreição de Jesus Cristo é a pedra angular do Cristianismo. Jesus ressuscitou! Tudo está aí contido: Dogma, Culto, Moral. Se Jesus Cristo ressuscitou, nossa fé é certa, nossa esperança é segura, nossa Religião é divina. 

   Mas não é este o único motivo de nossa alegria e extraordinário júbilo neste santo dia: A Ressurreição de Jesus Cristo é também o penhor e ao mesmo tempo o modelo de nossa ressurreição futura. E este pensamento leva ao auge a nossa felicidade. Jesus Cristo ressuscitou, logo nós ressuscitaremos também e nas mesmas condições e com a mesma glória, é claro, segundo nossa medida limitada de  puras criaturas. Assim, que a nossa carne se desfaça no pó do qual veio, nós não nos inquietaremos. Um dia ela se elevará deste mesmo pó cheia de vida e gloriosa. O próprio Jesus garantiu que os justos brilharão como o sol. 

   Jesus Cristo pôde ressuscitar a Si mesmo, Ele poderá ressuscitar também a nós. Nenhuma voz mortal, nenhuma voz divina, nenhum profeta, anjo algum Lhe disse: Levantai-Vos. Nenhuma mão estranha desligou as faixas que prendiam seu sudário. Só, no silêncio da noite rompeu as portas da morte, sozinho a abateu e venceu. Ora, o que Ele pôde para Si, não poderá para nós? Nossa carne não é porventura da mesma natureza que a Sua? Nosso corpo não é semelhante ao seu Corpo? Não disse Ele: "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim e Eu nele; e Eu o ressuscitarei no último dia? 
   Depois, Jesus mesmo prometeu: " Eu sou a Ressurreição e a Vida. O que crê em mim, ainda mesmo que tenha morrido, viverá e todo homem que vive e crê em mim não morrerá para sempre".

   São Paulo exclama: "Si compatimur ut et conglorificemur". Se sofremos com Cristo para que com Ele sejamos igualmente glorificados". Jesus Cristo é a nossa Cabeça e nós somos seus membros. Nossas mãos como as de Jesus devem distribuir benefícios sobre os homens; nossos pés, a exemplo dos Seus, devem correr a procura de nossos irmãos que se extraviaram. Nosso corpo todo inteiro como nossa alma deve se entregar às obras de piedade e de misericórdia. Pois bem, este corpo assim oferecido em vítima para a glória de Deus e ao bem das almas, estas mãos que tantas vezes depositaram o bálsamo nas chagas dos feridos, estes pés que levaram a consolação e a esperança nos tugúrios dos pobres e dos infelizes; estes pés tão belos que levaram o Evangelho às nações bárbaras; estes pés e estas mãos, este corpo, serão então para sempre cinza e pó e, depois de ter participado dos trabalhos do Corpo Mistico de Jesus Cristo, eles também não participarão da Sua glória? 

   Tanto no pensamento do grande Apóstolo como no pensamento de todos os cristãos, o dogma de nossa ressurreição futura está estreitamente ligado ao dogma da Ressurreição de Jesus Cristo. Um é a consequência rigorosa, necessária do outro.

   Mas a Ressurreição de Jesus Cristo não é somente o penhor de nossa ressurreição. Ela é também o modelo da nossa.
    Jesus sai do túmulo, inteiramente outro. Sai com seu corpo revestido com todos os dotes de um corpo glorioso. Não mais sujeito à dor, à enfermidade, à morte. Seu corpo ressuscitado é ligeiro como o espírito, penetrável, entrará no Cenáculo estando as portas fechadas. Todo ele revestido de glória e resplendente de luz, deslumbrará seus discípulos por aparições inesperadas. Ora, caríssimos irmãos, todas estas qualidades constituirão os dotes dos nossos corpos ressuscitados. Não haverá mais lugar para a morte. Esta foi tragada na vitória de Cristo. Nossos corpos terão por abrigo as abóbodas celestes, por vestes a luz deslumbrante do paraíso; por alimento, a eterna vista e eterna posse de Deus. 

   Alleluia! Alleluia! Regozija-te, portanto, ó minha carne no dia da Ressurreição de Jesus! Este dia é o anúncio de tua regeneração e de teu triunfo. Este dia é verdadeiramente o dia que fez o Senhor. Nossa alma está na alegria, nosso corpo cheio de esperança!
   Não! Não! a separação de minha alma e de meu corpo não será eterna. Estes dois seres, tão longo tempo e tão estreitamente unidos se reunirão um dia. Quando a alma se separar com tanta pena do corpo que ela anima, o adeus que ela lhe diz não é um adeus sem esperança. Eles se tornarão a ver, se reencontrarão um dia. Ao som de trombeta angélica a alma acorrerá sobre este túmulo onde repousa seu mortal invólucro. Ela chamará seu companheiro bem amado; e a esta voz conhecida, o corpo se levantará do pó e se unirá em fraternais amplexos a alma, sua cara companheira. 

   Eis, caríssimos irmãos, o que a solenidade deste dia nos anuncia. Jesus Cristo saindo radioso do túmulo nos diz: Vede-Me. O que Eu sou, vós sereis um dia. Aleluia! Aleluia!

   Uma mãe, a quem havia pouco, tinham morrido dois filhos, ouviu falar do juízo final e da ressurreição da carne.  - "Portanto - dizia ela extasiada - meus dois filhos eu os verei ainda, ainda poderei acariciá-los. Ver-lhes-ei os seus rostos, beijá-los-ei ainda; porém, não mais chorando, como os beijei, frios, frios, antes de os recompor no caixão. Mas quando será? "Quando as trombetas dos anjos soarem a hora do juízo final!"
   E quase impaciente por tornar a ver seus filhos, aquela mãe disse: "E por que não é amanhã este dia?"

   Caríssimos irmãos! Quem é que não chora algum parente defunto! Talvez sua mãe, talvez um irmão, talvez o esposo? Quantas vezes não vos assaltou um desejo veemente de lhes rever as feições, de olhar nos olhos tristes, de tornar a ouvir-lhes a voz qual a ouvíamos em horas felizes?
   Pois bem! O mistério da Páscoa dá-nos um grande consolo. Revê-lo-emos, tornaremos a ver não só os seus espíritos mas também os seus corpos gloriosos; revê-lo-emos como os havemos conhecido e amado na terra.

   Os santos sorriam na hora da morte. E tinham razão. Para o cristão que procura imitar a Cristo, a morte não passa de uma breve separação entre a alma e o corpo. É a alma que saúda seu corpo: Até breve irmão, combatemos juntos, estás cansado, deixo-te repousar. Depois de teu breve sono, ao soar da trombeta angélica, voltarei para te retomar, mas para gozares sempre, sem mais te cansares. 

   Ressurgiremos! Este é o grito de Jó: "Sei que o meu Redentor vive. Mas também sei que no último dia eu também ressurgirei para O ver com estes meus olhos!"

   Preparemo-nos, caríssimos irmãos, para a gloriosa ressurreição dos corpos, ressurgindo do pecado e da tibieza.
   Se caímos em algum pecado, comecemos tudo de novo. Confessemo-lo arrependidos.

   O rei Felipe II de Espanha velou uma noite inteira para escrever ao Papa uma carta de suma importância. Quando acabou, distraído pela fadiga e pelo sono, em vez de derramar nela a areia para enxugar; derramou a tinta. Felipe II empalideceu, mas depois recolhendo a sua coragem disse: "Comecemos de novo".
   Oh! Se na nossa vida tem havido momentos de sono e distração em que havemos derramado a tinta dos pecados na nossa alma, hoje que é Páscoa, é justamente o momento oportuno de dizermos: Comecemos de novo! Amém! Assim seja!

   

sexta-feira, 10 de abril de 2020

SERMÃO DA PAIXÃO: Exórdio, Oração e Agonia do Horto

ATTRITUS EST PROPTER SCELERA NOSTRA
(Isaías 53,5)
"Foi despedaçado por causa de nossos crimes".

  Pelo Sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus, Nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém!

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

 -  Quem não souber o que é o pecado, quem não lhe conhecer a graveza e enormidade, venha ver a satisfação que dele toma o Pai Eterno em seu Unigênito e diletíssimo Filho; "Pelos pecados do meu povo eu o cobri de chagas".

  -  Quem não sabe o estado lastimoso em que o pecado põe a alma de quem o comete, venha ver em que estado a satisfação de nossas culpas pôs a Nosso Senhor Jesus Cristo. "Non est ei species neque decor, exclama o Profeta: "não tem nem formosura nem aparência humana".

  -  Se não receais, pecadores, da justíssima indignação de Deus contra vossas culpas, vinde ver a manifestação que delas faz a Justiça Divina em seu amantíssimo Filho. Diz São Paulo: "Deus o propôs para demonstração de sua justiça". Vereis como o fogo da ira de Deus se ateia no ramo florido da inocência de Jesus e daí podereis julgar o que fará no lenho do vosso coração seco e estéril pelo pecado.

   -  E vós, cegos e iludidos, que derramais nas criaturas o amor de um coração que é só de Deus, vinde ver o extremo de amor com Cristo vos ama e deixai-vos por obrigados e vencidos de tão excessiva caridade.

   -  Vinde todos ouvir a lastimosa narração da Paixão e Morte de Cristo. E queira Deus que, esta tristíssima consideração produza nas almas os efeitos devidos. Queria Deus que, aos cristãos que me ouvem, lhes entre no coração a perfeita contrição de seus erros e de suas culpas!

   Mas, que tristíssimo assunto se oferece às nossas piedosas meditações: Um Deus morto, como se fora o mais torpe dos criminosos! Morto numa cruz!!!

   Diante de um Deus crucificado, o vasto universo deve precipitar-se na aflição para prantear a perda de seu divino Autor.
  Diante de um Deus crucificado, a orgulhosa razão adore reverente o mais terno e santo de todos os mistérios!
    Diante de um Deus crucificado, cristãos, meditai, cheios de piedade e de verdadeira compunção sobre o mais trágico acontecimento que se tem dado sobre a terra; sobre o ponto mais majestoso e tocante da Santa Religião que professamos.

ORAÇÃO E AGONIA NO GETSÊMANI

   Aproximava-se a hora fatal em que as profecias asseveravam ter soado para o Divino Mestre o momento de seus tremendos combates...

  Tristis est anima mea usque ad mortem". Era a agonia que começava!
Terminada a última Ceia, instituído o Sacramento da Eucaristia, reuniu Jesus os discípulos fiéis, encaminhado-se, com passo firme e resoluto para o Jardim das Oliveiras. Entrando no Getsêmani, afastou-se para uma espécie de gruta, recomendando aos discípulos que velassem um instante enquanto Ele ia orar ao seu Eterno Pai. E Jesus começou a sentir tristeza mortal: "
  Sentindo Jesus a torrente de iniquidades que se Lhe despenham sobre o coração, pálido, abatido, lamenta-se. Foi buscar algum alívio no coração dos seus discípulos. "Eu sinto morrer de tristeza. Se pois, me tendes algum amor, permanecei aqui e velai comigo por uns poucos momentos". Era o tédio que torna insuportável a alma. Era o pavor que abala o coração até aos fundamentos. Era a tristeza que tudo reveste de sombras funerárias. Era o abatimento que são os preâmbulos da morte que se avizinha inexorável. Tal era o estado de Jesus no Jardim das Oliveiras; e no entretanto, os discípulos dormiam. "Assim não pudestes velar comigo alguns instantes?

   Ó vós que estais resolvidos a não mais pecar! Considerai! A maior miséria do homem não é, certamente o ser fraco, senão o reputar-se forte. É o orgulho, a presunção com se fia de si mesmo. Vede os discípulos e aprendei! Fortes, intangíveis na abundância imaginária de suas forças, cheios de presunção, julgavam tocar a cabeça nas nuvens e ei-los de repente precipitados até às portas do abismo! Agora dormem; daqui a pouco, fugirão. 
   Desconfiai de vós mesmos - recorrei às luzes da oração, - valei-vos da força dos Sacramentos - vigiai e orai porque a carne é sempre fraca, embora se disponha o espírito às mais heroicas resistências.

   Outra vez, afastando-se dos discípulos, prostra-se Jesus com a face por terra exclamando em altas vozes: "Meu Pai, meu Pai, tudo é possível à vossa vontade onipotente. Se é pois da vossa vontade, se é possível poupar-me este martírio, passe para longe de mim este cálice de angústias!".
   Oração singular em que se jogam os destinos dos homens!
   Se é possível!!! - Mas se Deus não ouve a oração de Jesus, que há de ser de Seu Filho Unigênito, abandonado a todos os horrores de uma Paixão inominável?! Mas, se pelo contrário, cede à súplicas do Salvador, que há de ser de nós, pobres pecadores, cuja salvação está precisamente no sacrifício do Homem-Deus? Ouçamos do Céu a resposta: 

   Não. Não é possível, diz o Eterno Pai, porque este meu filho que é a santidade e inocência infinitas está revestido dos despojos do pecado e é o bastante para torná-Lo odioso aos meus olhos.

   Eis o que é o pecado! No entanto, quantas desculpas e quantas indulgências para o pecado cometido! Ó pecador insensato! Julgas, talvez, que a Justiça Divina aprecia o pecado com a indiferença do homem que o comete?! Não. Por um só pensamento mau que acolheste em teu coração, foi Cristo abandonado a todos os tormentos de sua Paixão. 

   E os pecados dos homens como um cortejo fúnebre, vão passando, um a um, perfeitamente distintos, diante dos olhos apavorados do Salvador. São os pecados dos reis e os pecados dos povos. São os pecados dos ricos e os pecados dos pobres. São os pecados dos velhos e os pecados dos moços. São os pecados dos pais e os pecados dos filhos. São os pecados dos bispos e dos padres e os pecados dos seculares. São os meus pecados e são os vossos pecados. São os pecados de todos nós, em tal dia, em tal hora, em tal lugar, em tal circunstância!

   Vê Jesus os crimes de todos os lugares e tempos, os pecados que desolaram e desolarão as cinco partes do mundo: desde o pecado da Adão e Eva, desde o homicídio de Caim até a última blasfêmia do Anti-Cristo. Ele vê, naquela noite, todas as noites tenebrosas de orgias, de carnaval, todos os crimes mais secretos e vergonhosos. 
   Nessa torrente de iniquidades que, lamacentas, se Lhe despenham sobra a alma desfalecida, Jesus distingue as maledicências e as calúnias, as impudicícias e os adultérios, as infidelidades conjugais e os atentados contra a natureza, estes pecados monstruosos desta sociedade moderna tão paganizada e ateia: o divórcio, a limitação criminosa da natalidade, o aborto, a dissolução da família pela legalização odienta de pessoas do mesmo sexo. Jesus distingue as traições e as vinganças; os pensamentos de ódio e os pensamentos de ambição; as dissoluções dos sensuais  e a impiedade dos libertinos; a malignidade dos ateus e as imposturas dos hipócritas. 
   Distingue Jesus a monstruosa ingratidão dos seus escolhidos, os padres e os bispos: uns dormem o sono da inércia, outros estão acordados, mas não para O defender, e sim para aplicar na Sua Face adorável o beijo traidor de Judas. Jesus via o nosso tempo, tempo de modernismo, de deturpação do genuíno espírito do Evangelho.

   Não é para menos!

   Banha-Lhe o corpo, copioso suor de sangue que enche seus fartos cabelos e cai gota a gota por sobre a terra. 

   Ó pecador! Contempla este Sangue Divino, que vês cair gota a gota!... Que lucro tiraste deste Sangue? Tu permaneces insensível na trilha do pecado! Ó tu, católico tíbio, por que vives no comodismo? Que lucro tiraste deste Sangue que vês cair e escorrer por terra? Se não te enterneces é sinal de que o teu coração não é mais que pedra bruta e insensível!

   Ó Sangue de Jesus, inebriai-me do santo amor. Ó agonia mortal de Jesus, fazei-me morrer a toda afeto terreno. Meu amado Salvador, salvai-me, estreitai-me convosco, e não permitais que eu haja jamais de perder-me.
    Ó refúgio dos pecadores, Maria Santíssima, Mãe do meu Salvador, ajudai um pecador que quer amar a Deus e se recomenda a vós. Socorrei-me pelo amor que tivestes a Jesus Cristo. Amém!

   
   

SERMÃO DA PAIXÃO: A prisão e os tribunais

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Tendo meditado na Oração e Agonia do Horto, continuemos a acompanhar a Jesus na Sua Paixão meditando na Sua Prisão e Julgamentos nos diversos Tribunais.

    Terminada já aquela luta terrível entre a justiça e a misericórdia; tendo ainda a face umedecida e os cabelos empastados do suor de sangue, caminha Jesus para os discípulos adormecidos, desperta-os e sai ao encontro dos que O buscavam para prender.


 Momento terrível! Era chegada a hora do triunfo das trevas. Alta ia a noite. Lá ao longe, as oliveiras refletem mil vacilantes fogos. Os arbustos secos estalam ao peso dos passos de pérfidos e cautelosos soldados. Por estranhos lumes acordam os passarinhos que esvoaçam. Lá ao longe, se ouvem os gritos sinistros. Aparecem finas pontas de lanças lustrosas. Aproximam-se os inimigos de Cristo: à frente, manso como um irmão, jovial como um amigo, mas com o demônio no coração e a hipocrisia na língua, avança a víbora dolosa de um Judas Iscariotes: "Aquele a quem eu beijar, prendei-o".
   O miserável traidor encosta seus lábios hipócritas e criminosos ao rosto sacrossanto do Filho de Deus. E depois, Jesus afastando-o de leve, como para vê-lo bem de frente, murmurou-lhe baixinho: "Pois assim com um ósculo entregas o Filho do homem? Amigo, que vieste aqui fazer?"
   E tão adormecido lhe estava o remorso no recesso da consciência que não despertava Judas a essa voz divina que o chamava para a vida e para a graça.

   Vejo assim, dois homens que se abraçam, que se abraçam e se beijam: Judas e Jesus; o lobo e o cordeiro, a bondade e a perfídia, o amor e o ódio, a santidade e o pecado. Jesus em toda Sua vida foi belo, compassivo, generoso. Jesus fora sempre um encanto que fascinava. Um mistério de mansidão e bondade que atraía a todos e a todos acolhia compassivo. Tinha gestos de misericórdia, que faziam prostrarem-se a seus pés, contritas e regeneradas as Madalenas penitentes e gratas. Tinha olhares de infinita piedade, que penetravam no íntimo das consciências, transformando-as e purificando-as e levando o bálsamo da esperança aos pobres corações desalentados. Tinha sorrisos de divinal afeto que arrancavam do abismo as almas perdidas. 
    Mas, aqui, abraçado a esse homem infame; estreitando contra o Seu coração essa ferida repelente e infecta; colando Seus lábios puríssimos nessa fronte vincada pela mais revoltante de todas as baixezas. Nesse inesquecível abraço, eu O vejo mais belo, mais compassivo, mais generoso do que nunca, porque O vejo infinitamente amável, infinitamente misericordioso!
    Judas e Jesus, estreitamente unidos em doloroso abraço, é a segurança do meu perdão. Tomemos nós, caríssimos, o lugar vazio no Coração de Jesus, rejeitado por Judas orgulhoso e mau; humildes e dóceis, atiremo-nos em Seus braços, com lágrimas de arrependimento e protestos de gratidão. 

   Dado o beijo traidor, logo os algozes lançam-se como feras sobre Jesus, e, algemado como um bandido, levam- No à cidade. Assim preso, manietado, posto entre os malfeitores, lá segue Jesus para o palácio dos Pontífices, onde O aguarda Anás, para um simulacro de processo. 
   E Jesus olhou em volta de si e se viu inteiramente só e abandonado de todos os discípulos. 
   Diante de Anás, esse homem odioso, pontífice destronado, saduceu infestado de astúcia e crueldade, comparece Jesus, tímida ovelha conduzida ao sacrifício. Está de pé, calmo, sereno e tranquilo, para um julgamento irregular em que é réu a própria santidade, testemunha a monstruosa ingratidão, defensor ninguém, juiz a hipocrisia desleal. 

   Interrogado sobre sua doutrina, responde Jesus, mansamente, com o respeito devido à autoridade do Pontífice: -"Eu ensinei publicamente no templo e nas sinagogas onde se reúnem os judeus. Por que me interrogas? Pergunta àqueles que me ouviram'. A esta humilde e inocente resposta, um criado do Sumo Sacerdote se avança, levanta sua mão sacrílega e descarrega uma pesada bofetada naquela face augusta, que arrebata os anjos. Ah! exclama Santo Efrém, a terra estremeceu, o céu se revoltou, os anjos se horrorizaram e velaram sua face, mas o Pontífice não protestou!

   Coincidência singular! No momento em que Jesus apela para o testemunho dos Seus discípulos, no pátio da guarda, Pedro acabava de O renegar blasfemando e jurando que não conhecia semelhante homem.

   Na virtude como no pecado há sempre uma gradação perfeita. Desprezar uma graça é desmerecer outra graça. Ceder agora à tentação é preparar o desastre de amanhã. Tal é o exemplo da negação de Pedro. No fundo o orgulho, que se fia em si mesmo e não procura evitar a ocasião. Primeiro, foi uma simples mentira: - "Não serás, acaso do número dos seus discípulos?" - "Não, não sou". Depois foi uma negativa formal: - "Juro-te que não conheço este homem". E finalmente protesta, blasfemando e jurando, que não conhecia semelhante homem".
   
   E ainda a blasfêmia lhe queimava os lábios, segunda vez cantou o galo e recordou-se Pedro, da profecia de Jesus. Neste ínterim, ao fundo do átrio, manietado, aos empurrões, escarnecido e vaiado aparece Jesus que, voltando-se para o discípulo, deixou-lhe cair na alma e no coração um olhar de infinita ternura e carinhosa repreensão. E Pedro, tendo saído para fora do pátio, banha as faces em lágrimas de arrependimento, lágrimas regeneradoras e salutares.

   Coluna e fundamento da Igreja, ó Pedro! Chora e confirma-te no amor de Jesus, por Quem darás a vida com a generosidade de um convertido. Sai daquele lúgubre local.  Vai, Pedro, amanhã Jesus precisará de ti para confirmar os teus discípulos. Vai, receberás as chaves da Igreja, para abrir e fechar; para ligar e desligar os pecados submetidos à tua jurisdição universal. Aprende pois, da tua própria experiência a usar de compaixão para com os pobres pecadores. Tu, barro frágil e quebradiço, saberás que todo homem é do mesmo barro quebradiço e frágil: e tu serás afetuoso, tu serás como o Divino Mestre, todo doçura e compaixão.

   Jesus, tão bom, tão meigo, tão compassivo, está diante de Caifás e do grande Sinédrio, abandonado inteiramente dos seus. Só Lhe ficaram juízes sem entranhas...
    Às calúnias das testemunhas, Jesus responde com a dignidade triunfal do silêncio. E Caifás aproxima-se de Jesus esconjurando-O em altos brados a declarar-lhe se era de fato o Cristo, o Filho de Deus vivo. E recebe de Jesus a mais solene, a mais formal e positiva afirmação da Sua Divindade: "Tu o disseste, eu o sou, e um dia vereis o Filho do Homem assentado à direita do Onipotente vindo sobre as nuvens do céu".
   Blasfemou! rugiu Caifás. "É réu de morte", responderam os pontífices. É réu de morte, exclamaram as turbas. 

   Arrastado pelos Pontífices, comparece Jesus perante o tribunal de Pilatos. Pilatos e Jesus se acham em face um do outro. - "És tu, verdadeiramente, o rei dos judeus?" Com olhar profundo, sonda Jesus a alma do procônsul, interrogando-o: "Dizes isto de ti mesmo, ou repetes o que outros te disseram de mim? O meu reino, continuou Jesus, não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus servos teriam combatido para que eu não caísse nas mãos dos judeus". - Portanto, replica o procônsul, és tu verdadeiramente rei? - "Tu o disseste. Eu sou Rei. Eu vim ao mundo para dar testemunho da verdade".  - "A verdade! murmurou Pilatos, que é a Verdade?"...
   E a multidão se avolumava mais e mais, excitada pelos pontífices: "É um malfeitor!"
   - Mas não encontro neste homem, motivo algum para condenação!
   - Se não fosse um malfeitor não o teríamos trazido à tua presença.
   Debalde se esforçava o Procônsul por arrancar o Salvador da sanha enfurecida da turba inconsciente. E o Governador pagão, declarando que n'Ele não encontrava o menor fundamento de acusação; envia-O para Herodes.

   Jesus guarda perante esta orgulhosa corte o mais profundo silêncio; pelo que o rei, considerando-O como louco, O reenvia a Pilatos depois de O ter mandado vestir de branco, como uma representação de demência. 
   Sim, Herodes, Jesus é verdadeiramente um louco, mas é um louco de amor, porque deseja morrer até por aqueles que tão desumanamente O perseguem. 
  
   Jesus novamente diante do Governador. 
  Os judeus continuaram a pedir, em gritos, a morte de Jesus. Pilatos, reconhecendo a Sua inocência, procura livrá-Lo, embora seja necessário para isto, recorrer a um meio infamante.
   Havia um privilégio do povo, para perdoar a um criminoso na Festa da Páscoa. - "Escolhei, disse-lhes Pilatos, escolhei entre Jesus e Barrabás: quem deve ser posto em liberdade".
   Que horrível paralelo! Jesus, o Santo dos Santos! Barrabás, um monstro coberto de crimes! E ambos são pesados na mesma balança!!! - A qual dos dois quereis que vos solte, a Jesus ou a Barrabás? A Jesus que deu a vida aos mortos ou a Barrabás que deu a morte aos vivos?
   - Livrai a Barrabás, a Jesus, condenai-O à morte, gritaram todos a uma só voz. Ó cúmulo de abominação!!!
   E, contudo, é esta a injúria que Jesus recebe constantemente de muitos cristãos. Não é um ladrão, nem um assassino que nós preferimos a Jesus; é um metal, uma vil criatura, uma satisfação criminosa, um degradante prazer de um momento... E quem sabe, se agora eu dissesse a alguns de vós que me ouvis: a quem quereis crucificar em vossa alma: Jesus ou o torpe objeto de vossos criminosos desejos? Alguém me responderia: que morra Jesus, contanto que minhas paixões sejam satisfeitas!

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo, compadecei-vos da dor de Jesus, mostrai-Lhe o vosso reconhecimento. Pedi que o seu sangue caia em abundantes bênçãos sobre vós e sobre todas as almas; que ele caia sobre os corações mais duros, para os enternecer, sobre os mais manchados, para os purificar, sobre todos, para os salvar. Amém!
    

SERMÃO DA PAIXÃO: Flagelação e Coroação de Espinhos

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo! 
  
   Continuemos a acompanhar o Nosso Divino Mestre em sua Paixão.

   "Attritus est propter scelera nostra". "Foi despedaçado por causa dos nossos crimes". (Isaías, 53, 5). 

   O Governador romano, surpreendido pela escolha que fizeram, condena o Salvador a uma cruel flagelação, julgando assim pacificar pela efusão de Seu Sangue, o furor de Seus inimigos.

 
Apenas foi proferida esta iníqua sentença, os algozes e os soldados se apoderam da Vítima Santa. Despem Jesus de Seus vestidos. Prendem-no à uma coluna e com toda força e brutalidade fazem voar a sua carne em pedaços e jorrar seu sangue na terra, com fortes e repetidos golpes dos azorragues. 

    Ó Céus! Que confusão para o Deus que cobre a terra de nuvens, o firmamento de glória, que reveste os pássaros de sua plumagem, as flores de seu esmalte, os lírios dos campos de sua candura... ver-se exposto no estado de nudez à vistas impuras. Porém, os seus verdugos não estão ainda saciados; eles tecem uma coroa de espinhos, e com ela cingem a cabeça do Filho de Deus; estendem sobre os Seus ombros um andrajo de púrpura. Colocam em Suas mãos uma cana, para deste modo, irrisoriamente representarem a Sua Divina Realeza. Depois de O terem assim preparado, como um rei de teatro, ajoelham-se diante d'Ele por escárnio; cobrem a Sua Face de escarros. E Pilatos, vendo Jesus assim maltratado, julgou que mostrando-O ao povo excitaria compaixão. E foi assim flagelado e desfigurado que Pilatos o designou à piedade da multidão: "Ecce Homo!" Eis o homem!
    Eis o homem que curou os vossos doentes, ressuscitou os vossos mortos! Ainda não O maltratastes bastante?!
     Ah! estas expressões são dirigidas agora a todos os pecadores: "Ecce Homo!" Mundanos, diante de um Deus açoitado e coroado de espinhos para pagar a vossa moleza e a vossa sensualidade:  É uma ingratidão, é uma tirania, permanecerdes afogados no seio do luxo, da volúpia e de tantos prazeres criminosos!...

   "Ecce Homo!" Este quadro, primeiramente é para vós cardeais, bispos, padres que renegaram e renegam a Jesus, quebrando o voto solene de castidade perfeita, com pecados que bradam aos céus, e, em se tratando de pedofilia, a não se converterem e passarem a fazer penitências até a morte, melhor fora que amarrassem uma pedra de moinho ao pescoço e se lançassem ao fundo do mar. 

   "Ecce Homo!" Este quadro é para vós, pais e mães de família, que tendes à vossa guarda a candura virginal das vossas filhas! Filhas abandonadas a todos os perigos da sua inexperiência e da maldade dos homens, com estas vestes imorais e indecentes com que as vestis. 

   "Ecce Homo!" Este quadro é para vós, senhoras levianas e vaidosas, que não chegais a convencer-vos de que os requintes ridículos da moda visam de perto o desprestígio da mulher cristã. 


 Minha alma, enquanto Jesus era flagelado e coroado de espinhos, ultrajado e cuspido, Ele pensava em ti e oferecia a Deus Pai seus acerbos martírios para livrar-te dos flagelos eternos do inferno. Pensava, outrossim, em sua Esposa mística, a Santa Madre Igreja cujos filhos e ministros ingratos também a açoitariam, coroariam de espinhos, cobririam sua santa face com os escarros nojentos da impureza.
 Ó Deus de amor, como pude eu viver tantos anos sem Vos amar! Ó chagas de Jesus, feri-me de amor para com Deus que tanto me amou. Ó Maria Santíssima, Mãe da graça, alcançai-me este amor! Amém!

SERMÃO DA PAIXÃO: Sentença de morte, Carregamento da Cruz e Crucifixão

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Acompanhemos o Divino Salvador até ao Calvário!
   
   A turba sanguinária, apesar deste tão compassivo quadro do "Ecce Homo", capaz de comover até os corações de bronze, continua em furor, gritando: retirai esse homem de nossas vistas e mandai que ele seja crucificado!
   
   Pilatos ainda faz alguma resistência, mas já se mostra vacilante. 

   "Se dás liberdade a esse homem", gritam todos os sinedritas, "não és amigo de César; porque todo aquele que se faz rei é um revoltado contra César".

   Era o golpe derradeiro!!!

   À evocação do nome de César, vacila o procônsul como fulminado por um raio. Os doces reclamos da graça foram abafados pelas ambições humanas! Pilatos tem medo. Lava as mãos do Sangue inocente e pronuncia a sentença de morte. 

   - Serás crucificado! Ibis ad crucem!


 Triunfam enfim os inimigos de Jesus. Pronunciada a sentença ardentemente desejada, organiza-se o préstito:
    Como outrora Isaac levando sobre os ombros o lenho do holocausto, Jesus sobe a ríspida ladeira que dá para o Calvário a essa hora abafadiça e irrespirável. 
  
   Eis o alto do Calvário!

  Omitimos aqui, o encontro de Jesus com Sua Santíssima Mãe. Na Quarta-feira Santa já publicamos o Sermão do Encontro. 

   Aí no Calvário, permaneçamos até o fim. Agora, em companhia de Jesus e também de Sua Mãe Santíssima, deixemos que a dor invada nossos corações, contemplando essas duas vítimas inocentes unidas num mesmo sacrifício. O que se passou no alto do Calvário deve ficar gravado em nossos corações! 

   "Posta a cruz, diz Padre Vieira, naquele lugar do monte onde havia de ser levantada, enquanto uns abriam o cova, e outros preveniam os instrumentos, mandaram ao Senhor que se despisse; (...) Despido, com os olhos no chão, mandam-lhe que se deite na cruz. Levantou o Senhor os olhos ao Céu, pôs os joelhos em terra, cruzou as mãos sobre o peito, oferecendo-se ao sacrifício; e fazendo logo com grande sujeição e humildade o que lhe mandavam, deitou-se sobre a cruz, estendeu os braços sobre os braços da cruz, e os pés para a parte dos pés, e a cabeça sobre os espinhos". 
   Eterno Pai, se não há piedade na terra, esperamo-la do céu. 
  Já Isaac está deitado sobre a lenha! Já está conhecida a obediência de Vosso Filho. Já mostrou que estima mais a Vossa Vontade que a Sua vida. Se é necessário sangue para a Redenção, já está derramado muito mais do que basta.
   Senhor, suspende o golpe! 
   Pecadores, avaliai agora o pecado pela resposta que é dada a esta súplica; mas ai, que já os algozes têm nas mãos os cravos. Já vejo levantar o martelo. - Eterno Pai, não poupareis o Vosso Filho? - Não! Vejo n'Ele os pecados dos homens. Execute-se o golpe, diz a Divina Justiça, preguem-se os pés, preguem-se as mãos, consume-se o sacrifício...
   E assim se fez...
   Começam a pregar primeiro a mão esquerda, depois a direita, ultimamente os pés. As cruéis marteladas fazem ecos pelos vales daqueles montes; mas muito maior eco faziam no coração da lastimosa Mãe. No corpo do Filho, diz Vieira, davam-se as marteladas divididas, porque umas feriam os pés; outras a mão direita; outras a  esquerda; porém na Senhora todas batiam e descarregavam juntas no mesmo lugar, porque todas feriam o coração. 

   Pregado, enfim, na cruz, o nosso amoroso e pacientíssimo Jesus, tomaram os algozes a cruz em peso e ficou arvorado no monte Calvário o estandarte de nossa Redenção. 

   Oh! que dor! Oh! que tormento! Oh! que ânsia daquela humanidade sagrada, neste rigorosíssimo ato!. Caiu a cruz de golpe na cova, que era funda; estremeceu e ficou suspenso com todo o peso; e com este abalo de todos os membros e de todas as veias, as quatro fontes de sangue que estavam abertas, começaram a correr com maior ímpeto, e a regar a terra. ...


 Oh! que afligido, que angustiado vos vejo, meu Jesus!
   Se o Senhor se queria firmar sobre os cravos dos pés, mais feriam-se os pés; se se queria suspender sobre os cravos das mãos, rasgavam-se mais as mãos; se se queria arrimar à cruz, cravavam-se mais os espinhos. 
   Faltava-Lhe o sangue para o alento, faltava-Lhe o ar para a respiração, e até  a terra, que não falta aos bichinhos dela, faltava ao Criador do céu e da terra! Pode-se, continua o Padre Vieira, considerar mais extrema miséria e desamparo? Que morra o Filho de Deus, e que o matem os homens; e que nem sete pés de terra sobre que morrer, lhe concedam! Oh extremo de ingratidão, só igual ao extremo de tal amor!

   Prometido o Paraíso ao ladrão que se arrependeu, tratou o Senhor de se despedir e de fazer o Seu testamento. Bens deste mundo, de que testar, não os tinha, porque nunca os tivera; e os pobres vestidos com que se cobria, que é só o que possuía, não os deixou, nem os pôde deixar; porque pertenciam aos algozes que já os tinham repartido entre eles. O que tinha e Lhe restava nesta vida e desta vida era uma Mãe e um amigo que, de todos, só Lhe fora fiel. Olhou, pois para a Mãe e para o discípulo amado e disse à Mãe:  "Mulher, eis aí o teu filho";  e ao discípulo: "Eis aí a tua Mãe".

   Que breves palavras, mas quão agudas e lastimosas! Agudas e lastimosas para o coração da Mãe, agudas e lastimosas para o coração do Filho. Considerai, almas devotas, qual seria a dor daquela tão amorosa e afligida Mãe, ouvindo estas palavras. Quanto lhe partiria o coração, ver que em lugar do Seu Jesus, lhe davam outro filho ou outros filhos!
   Maria olhou em torno de si. Ali estava João, o moço angélico e puro. Mas, estavam também: Madalena, os algozes, o mau ladrão. Pois também a estes haveria Ela de os acolher como filhos. João, Madalena e o mau ladrão representavam no alto do Calvário as três classes de almas de que se compõe a humanidade: almas puras e sem pecado, almas pecadoras que se arrependem e almas pecadoras não arrependidas. E Maria realmente compreendeu o alcance da profecia do Velho Simeão. Era preciso que também Ela, nesta hora de silêncio, de angústias e de trevas, oferecesse o coração ao gládio do profeta, para desta ferida aberta nascêssemos nós, os filhos de sua dor. 

   Maria, sois nossa Mãe! Vós que sois a onipotência suplicante; vós que sereis sempre toda amor e bondade, porque sempre sereis Mãe, velai por nós! Amém!
   

SERMÃO DA PAIXÃO - A MORTE NA CRUZ

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Ao lado de Maria Santíssima assistamos a morte de Nosso Divino Salvador.

   Três horas da tarde... A treva que, desde o meio dia se vinha adensando sempre mais e mais, era agora pesada e lúgubre como um manto de chumbo a cair sobre os circunstantes. Em torno da cruz, medrosa e indecisa, como a espiar o momento favorável, pairava a morte. Mas a morte não ousava aproximar-se da Vida. 

   Recolhendo as últimas forças, deu Jesus um grande grito, ergueu os seus olhos para o Céu e exclamou: "Pai em vossas mãos entrego a minha alma". Depois, como acenando à morte que se aproximasse inclinou a cabeça e expirou.

   Ah! caríssimos fiéis, se a morte de um Deus, que abalou toda a natureza deixou ainda corações insensíveis como pedras; as pedras se fizeram corações para a sentir! Houve um grande terremoto, e os rochedos se fenderam. 

   No tempo da Lei Mosaica, quando era encontrado um cadáver em qualquer parte, eram intimados todos os habitantes do lugar e da vizinhança e comparecerem numa vasta sala. Lá tomavam assento os homens mais notáveis para um tribunal. Em face dos juízes e sob o olhar do povo, colocava-se sobre uma mesa o cadáver ensanguentado. Depois todos: homens e mulheres, velhos e moços e até crianças avançavam-se e à medida que passavam diante do morto, deviam levantar a mão, e dizer: "Sou inocente do assassínio deste homem". 

   Há vinte séculos que uma vítima foi encontrada sem vida e coberta de chagas no alto do Calvário. A nobre Vítima, ei-La!...[neste momento, o pregador toma em sua mão um crucifixo de tamanho suficiente para poder ser visto por todo o povo, levanta-o e mostra-o a todos] - É o corpo de Jesus de Nazaré. Esse Corpo Divino, quem O maltratou assim? Quem o pregou na cruz? quem pôs em Sua augusta fronte uma coroa de espinhos? Quem O matou? - Os escribas, os fariseus, os soldados. - sim, mas foram os instrumentos em minhas mãos sacrilegamente pecadoras! Perdão, Jesus, perdão! "Foram meus crimes que pesaram em tão grande número sobre Vossa cabeça que chegastes ao ponto de suar sangue no Jardim das Oliveiras. Fui eu quem Vos deu o beijo de Judas. Fui eu quem amarrou os Vossos pulsos! Não foram os soldados. Fui quem vos condenou: não foram Anás e Caifás. Não foi Pedro quem Vos renegou: fui eu. Não foi Herodes quem vos tratou por louco: fui eu. Não foi Pilatos quem lavrou a sentença de morte: fui eu, sempre eu. Eu tomei do azorrague e sangrei o vosso corpo; eu bati os espinhos para que entrassem bem dentro na cabeça; eu furei de cravos os vossos pés e as vossas mãos; eu vos matei de sede durante três horas. Matei" (Pe. Dr. Castro Neri). A minha mão tinta de sangue levanta-se, não para dizer-se inocente, mas para Vos pedir perdão: Senhor eu sou o vosso assassino. Perdão! E já que morrestes por mim, eu viverei por Vós, para Vós, para Vos amar eternamente no Céu. Amém! Assim seja!


quinta-feira, 9 de abril de 2020

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

   A - DEFINIÇÃO: A Eucaristia é um sacramento que, pela admirável conversão de toda a substância do pão no Corpo de Jesus Cristo e de toda a substância do vinho no Seu precioso Sangue, contém verdadeira, real e substancialmente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor, debaixo das espécies de pão e de vinho, para nosso alimento espiritual.

   EXPLICAÇÃO:
1 - A Eucaristia ou Comunhão é um dos Sete Sacramentos da Santa Igreja. Três são as coisas exigidas para constituir um sacramento - sinal sensível, instituição divina e produção da graça. Já vimos, em post anterior, que Jesus instituiu a Eucaristia na Quinta-feira Santa e que Ela contém, não só a graça, mas o próprio Autor da graça: Jesus. O sinal sensível são as espécies (ou "aparências") do pão e do vinho. embora a matéria conste de dois elementos, o pão e o vinho, há um único Sacramento, porque estes dois elementos constituem um sinal só, já que a finalidade deles é a mesma. Comida e bebida são duas coisas diversas, que se empregam  para a mesma finalidade, ou seja, para restaurar as forças do corpo. Assim, no Sacramento, as duas espécies diversas representam o alimento espiritual com que as almas se sustentam e se nutrem. Por isso Nosso Senhor declarou: "Minha carne é verdadeira comida, e meu sangue é verdadeira bebida".

   Três são as coisas que este Sacramento nos indica: a) a primeira, que já passou, é a Paixão de Cristo Nosso Senhor. Ele próprio havia dito: "Fazei isto em memória de mim". E São Paulo testemunhou: "Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice, anunciareis a Morte do Senhor, até que Ele venha". b) a segunda, é uma graça divina e celestial que o Sacramento dá quando O recebemos, para nutrir e conservar as forças da alma. c) a terceira, que anuncia o futuro, é o fruto de eterna alegria e glória que havemos de possuir na pátria celestial, por promessa de Deus. Jesus prometeu: "Quem comer deste Pão, viverá eternamente".

   2 - O Sacramento da Eucaristia depende do Santo Sacrifício da Missa, que realiza a Presença real de Nosso Senhor. Na hora da Consagração, toda a substância do pão e toda a substância do vinho se convertem na substância do Corpo, Sangue Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, permanecendo apenas as aparências do pão e do vinho. As aparências (ou acidentes ou espécies) são: a forma, a cor, o gosto, o peso, o tamanho, o cheiro etc. Ensina o Concílio de Trento que, com propriedade, a Santa Igreja dá a esta admirável conversão o nome de TRANSUBSTANCIAÇÃO, porquanto na Eucaristia a substância total de uma coisa se converte na substância total de outra coisa.
   A Eucaristia é JESUS realmente, e não um símbolo de Jesus.
   A Eucaristia é JESUS verdadeiramente, e não uma figura de Jesus.
   Jesus Cristo está substancialmente presente na Eucaristia, e não virtualmente apenas.

Ornamentação para a procissão de Corpus Christi 
Carmelo, Varre-Sai, RJ.

   3 - A Eucaristia é um Sacramento de natureza especial. Enquanto os demais têm existência apenas na hora em que se administram, a Eucaristia é e continua a ser sacramento tanto antes como depois do uso. O Batismo por exemplo só existe no momento , muito curto, em que o ministro pronuncia a fórmula, derramando água na cabeça da criancinha; pelo contrário, Nosso Senhor está presente na Eucaristia, no estado de sacramento, sob os véus das espécies, independentemente da comunhão dos fiéis.

   4 - PARA NOSSO ALIMENTO ESPIRITUAL: aí está uma das razões e finalidades por que Nosso Senhor instituiu a Santíssima Eucaristia - para ser Ele próprio o alimento espiritual das almas. "Se não comerdes a Carne do Filho do Homem,  e não beberdes o Seu Sangue, não tereis a VIDA em vós". A vida divina que recebemos no Batismo e que foi robustecida na Crisma, é conservada e desenvolvida pelo Sacramento da Comunhão.
              COMUNGAI, COMUNGAI TODO DIA, A EUCARISTIA É VIDA IMORTAL.

QUINTA-FEIRA SANTA


Instituição da Eucaristia e do sacerdócio

"No cenáculo, assim como há mais que uma refeição, assim também há outra coisa além do sacrifício. Há a instituição de um novo sacerdócio. Como teria Jesus dito aos homens: Se não comerdes a minha carne e não beberdes o meu sangue, não tereis vida em vós, se não pensasse em criar um ministério, pelo qual renovasse, até ao fim dos séculos, o que então acabava de fazer na presença dos doze Apóstolos? Ora, eis aqui o que diz a estes homens que escolheu: Fareis isto em memória de mim. Dá-lhes por estas palavras o poder de converter o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue; e este sublime poder transmitir-se-á na Igreja pela sagrada ordenação, até à consumação dos séculos. Jesus continuará a realizar pelo ministério de homens mortais e pecadores, o milagre que fez no cenáculo; e, ao mesmo tempo que dota a sua Igreja com este único e perpétuo sacrifício, dá-nos , segundo sua promessa, com o pão do Céu, o meio de nós permanecermos nele, e ele em nós" (D. Guéranger, Ann. liturg.).

Estas duas instituições reunidas encerram dois poderosos motivos de reconhecimento, que hão de ser hoje o objeto da nossa meditação. O primeiro refere-se a todos os fiéis: Accipite et manducate, hoc est corpus meum..., accipite et bibite, hic este sanguis meus; [tomai e comei, isto é o meu corpo]; o segundo refere-se em particular aos Sacerdotes: Hoc facite in meam  commemorationem [Fazei isto em minha memória].

I. Amor de Jesus Cristo para com os homens na instituição dos mistérios deste dia: Hoc est corpus meum [Isto é o meu corpo].

II. Amor particular de Jesus Cristo para com os seus ministros: Hoc facite in meam commerationem.

I. Amor do Salvador para com os homens na instituição dos mistérios deste dia. A Eucaristia é o testamento do Filho de Deus, que vai morrer; é um dom, último penhor da sua ternura. Qual é este dom? A quem é feito? Quando e porquê é ele feito? Só o amor infinito era capaz destas invenções inefáveis, que já os profetas entreviram: Notas facit in populis adinventiones ejus [Isaías, III, 10).

1º "Tendo amado os seus que estavam neste mundo amou-os até ao fim". Tudo estava preparado, e era chegada a hora de cumprir o grande desígnio formado pelo Coração de Jesus. "Enquanto ceavam, tomou Jesus o pão, benzeu-o, partiu-o, e deu-o a seus discípulos, dizendo: "Tomai e comei:isto é o meu corpo, que será entregue por amor de vós". E tomando o cálice, deu graças, e deu-lho, dizendo: "Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue do Novo Testamento, que por vós será derramado" (Mat. XXVI, 26). Posso eu ouvir estas palavras, sem me sentir tomado de respeito e transportado de amor?

Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue! Que é o que Jesus nos dá? É infinitamente mais que o seu reino; é Ele mesmo, seu poder, sua bondade, suas graças, seus merecimentos! ... A sua carne crucificada por amor de nós identifica-se com a nossa carne; o seu sangue, que salvou o mundo, mistura-se com o nosso sangue. Nossa alma une-se à do Redentor; sua divindade penetra-nos, e consome em nós tudo o que o pecado havia corrompido. O amigo fiel repousa no nosso seio, e diz-nos: Pone me ut signaculum super cor tuum (Cant. VIII, 6) (=Põe-me como selo sobre o teu coração).
Ó homens, buscai algum bem, que não esteja neste dom inestimável! e vede se o amor de Jesus para convosco o não tornou pródigo de si mesmo, pois julgou que era muito pouco dar-vos tudo o que possui, se vos não desse também tudo o que Ele é: divindade e humanidade!...

2º Mas, a que homens privilegiados será destinado tão mimoso favor? Será reservado para a incomparável Virgem, para o apóstolo a quem Jesus amava, para algumas almas escolhidas, êmulas da pureza de Maria e de São João? Não. Jesus concede-o a todos os seus discípulos: Deditque discipulis suis, a todos os filhos da sua Igreja, de todos os tempos, de todos os lugares, de todas as condições.

Ninguém é excluído, se não se exclui por sua própria vontade; e é por isso que, depois de ter feito este prodígio, compêndio de todos os prodígios, ordena aos seus ministros que façam o que Ele acaba de fazer, que perpetuem este milagre de amor, renovando-o até ao fim dos séculos, em toda a parte onde conquistarem para Ele servidores. Oh! como é verdade que o seu amor para conosco não tem limites, pois se dá todo inteiro e a todos! E este amor é também desinteressado.

3º Quando instituiu a Eucaristia, que esperava Ele dos homens? Quando lhes dava uma prova de seu generoso e extremoso amor, que Lhe preparavam eles? É na véspera da sua Paixão, in qua nocte tradebatur [na noite em que seria entregue], no momento em que os Judeus deliberavam sobre os meios a empregar para Lhe darem uma morte infame e cruel, no momento em que Judas Iscariotes buscava ocasião de o entregar ao seu ódio e inveja. Quando os homens mereciam mais sua indignação, é que Ele leva o amor para com eles até aos últimos limites: In finem dilexit eos. Vê o que se maquina contra Ele, conhece as profanações futuras e os atentados presentes; nada o detém: Aguae multae non potuerunt extinguere caritatem, nec flumina obruent illam (=As muitas águas não puderam extinguir o amor, nem os rios terão força para o submergir].

4º Finalmente, que se propõe Ele nesta admirável instituição, senão vencer a excessiva perversidade com a excessiva bondade? Os homens rejeitam-no, vão dentro  em breve gritar: Tolle, tolle, crucifige eum [Tira-o, tira-o, crucifica-o]; e ele prende-se a eles para não os deixar mais. Querem, por assim dizer, com seus enormes crimes, forçar Deus a feri-los sem misericórdia, e Jesus quer interpor-se como vítima de propiciação, com um sacrifício perpétuo, entre a justiça de seu Pai e os crimes dos homens. Não podem suportá-lo; e Ele, dir-se-ia que não pode abandoná-los; só se achará bastante perto deles, depois que tiverem comido a sua carne e bebido o seu sangue! Quer ser o alimento de suas almas; Ego reficiam vos; quer comunicar-lhes sua vida divina, que aproveitará também  a seus corpos, e em virtude da qual os ressuscitará no último dia (cf. S. João, VI, 55).

Tais são os intuitos do seu amor neste mistério: estar sempre com os homens; sacrificar-Se sempre por eles; unir-Se a eles como seu alimento, para os transformar nele. Até ao fim dos séculos, terão junto a si o tabernáculo em que reside, o altar em que se imola, a sagrada mesa em que se dá como alimento.

II. Amor do Salvador para com seus ministros na instituição dos mistérios desde dia. [Só darei o resumo].

A Eucaristia, que é a riqueza de toda a Igreja, é o tesouro particular do sacerdócio. Houve jamais ministério tão divino? Como o exerceis vós, ministros do Senhor? Honrai hoje o Santíssimo Sacramento e o sacerdócio com especial devoção. (Extraído do Livro "MEDITAÇÕES SACERDOTAIS"  de autoria do Padre Chaignon, S. J.).


quarta-feira, 8 de abril de 2020

SERMÃO DO ENCONTRO



  "O vos omnes que transitis per viam, attendite et videte si est dolor, sicut dolor meus" (Lamentações de Jeremias, I, 12).
       "Ó vós todos os que passais pelo caminho, atendei e vede se há dor semelhante à minha dor".




"Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!

 Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Cena patética! Quadro doloroso é o que agora presenciamos! Tremei, ó terra! Enchei-vos de horror, ó céus!
    Os meus olhos se encontram com um homem atado com duras cordas, com a cabeça rasgada dos mais penetrantes espinhos. Ferido, dilacerado, com as vestes ensopadas na abundância do seu próprio sangue; trêmulo e arquejante caminha oprimido pelo enorme peso do mais infamante madeiro! Grande Deus! Será um assassino público, um parricida, um traidor da Religião e da Pátria, para sofrer tanto e ser assim tão cruelmente castigado?! 
    Mas não! É o inocente Jesus! O mais humilde, o mais modesto, o mais puro, o mais caridoso dentre os filhos dos homens!

   Não há, entretanto, uma só pessoa que se compadeça de suas desventuras. Não há um só coração, que compartilhe as suas dores e os seus sofrimentos!
   Que é feito agora de seus amados discípulos, que foram tão prontos em acompanhá-Lo  ao Tabor para presenciar a sua gloriosa Transfiguração?
   Que é feito destes milhares de enfermos que d'Ele tinham recebido a saúde, e de mortos que d'Ele tinham recuperado a vida?
   Onde estão estes homens de Religião e de piedade que ainda há poucos dias atiravam os seus mantos em terra para Jesus passar por cima; e que juncando a sua passagem de palmas e de flores, O acompanhavam bradando : Hosana ao Filho de Davi; bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!? 
   Todos O abandonaram e tornaram-se seus inimigos!

   Mas, ah! caríssimos irmãos, eu minto dizendo que todos O abandonaram. Sim, eu vejo uma mulher tão bela com seu rosto nimiamente pálido, romper heroicamente a grande multidão que O cerca. É Maria Santíssima. Pois, apenas recebera através de São João Apóstolo, a triste notícia de que Seu amado Filho Jesus caminhava com a cruz às costas em direção ao Calvário, ela parte imediatamente, e seu coração se achava em contínuos sobressaltos ao verificar as pedras das ruas de Jerusalém tintas do sangue de Seu amantíssimo Filho. 
   Ainda um pouco distante, seus olhos tão tristes e amortecidos parecem procurar um tão caro objeto que extremamente seu coração ama. Ó Virgem Mãe, é realmente o Vosso Filho!!! Aproximai-vos bem deste ferido, dilacerado dos pés até a cabeça! E esta Mãe Dolorosa, vacilante, trêmula com dificuldade pode conservar-se em pé!


 Oh! Dolorosa Mãe!!!
   Vede-O agora, e dizei-me, se é este aquele que era o mais lindo e mais formoso dentre todos os filhos dos homens cujo corpo fora formado pelo Espírito Santo em vossas puríssimas estranhas?!

   Vede-O e dizei-me se este é aquele mesmo homem poderoso em obras e palavras, a quem o vento, o mar, e toda natureza prontamente obedecia?!

   Vede-O e dizei-me se este é aquele mesmo Messias prodigioso, que curava os cegos, os surdos e os mudos, que restituía a saúde aos enfermos, ressuscitava os mortos?!

   Ó desumana ingratidão, vós rasgando o corpo deste Homem-Deus, dilacerais ainda muito mais cruelmente o terno coração desta Mãe amorosíssima. 

   Ah! caríssimos fiéis, que encontro doloroso! Que olhares de desolação! Maria vê seu Filho desfalecido e desfigurado e não Lhe pode valer. Jesus vê sua santa Mãe aflita e desolada e não a pode consolar. Não falam os lábios... falam os corações! Minha Mãe, minha pobre Mãe!!! - Meu Filho, meu querido Jesus!!! Ó único objeto de todas as potências de minha alma, demorai por um pouco, ó meu Filho tão sanguinolento sacrifício; concedei um pequeno alívio a esta angustiada mãe. Reparti comigo vossos pungentes tormentos. Deixai que eu coloque um pouco sobre meus ombros esse pesado madeiro, que tanto Vos oprime; dai-me licença, que eu afrouxe os laços dessas tiranas cordas que Vos prendem e maltratam; consenti que eu ponha sobre minha cabeça esta coroa de penetrantes espinhos, que faz jorrar torrentes de sangue sobre a Vossa adorável face!!!

   Ó Maria! quem poderá exprimir os tormentos deste tão doloroso encontro?! Nem o céu, nem a terra  vos oferecem o menor alívio, a mínima consolação!!! Se olhais para o Céu, contemplareis um Deus irritado contra os pecados que Vosso Filho tomou sobre Si. Contemplareis este Deus justíssimo que vos impõe o rigoroso preceito de imolar vosso Filho único e bem amado!!!
   Se volveis vossos olhos ao redor de vós, ouvireis os clamores públicos duma nação ingrata, duma vil populaça que brada em alta voz: "É réu de morte, seja crucificado!!!

    Caríssimos e amados irmãos, nós que assistimos a representação do encontro, nós que simbolicamente o realizamos; não a assistimos, não a realizamos com os sentimentos que teve o povo de Jerusalém. O que hoje nos traz aqui é o amor, é a gratidão àquelas santíssimas pessoas cujo encontro na rua da dor nos comove, nos enternece.
    O que nos traz aqui é também a confiança. Semelhante a Jesus, cada um de nós é colocado na rua da amargura. Cada um de nós arqueja sob o peso da cruz que a Divina Providência lhe impôs. E assim, gemendo e chorando seguimos o nosso caminho ao Calvário. As dores, as cruzes, as provações desta vida temporal constituem nossa existência cotidiana. Procuramos a quem nos conforte, nos anime, nos console. Ah! como Jesus sentiu o peso do lenho e sua ignomínia. No entanto, levou-o com paciência firme e sem queixas. Maria Santíssima fez o mesmo. Aceita a vontade de Deus. Dá o seu "fiat" para ser a Corredentora. Une seu sacrifício ao sacrifício de seu Jesus. Sofre com Ele e por nós. Idêntica é nossa tarefa. Avante, pois, com coragem e paciência!!!
    O que, outrossim, nos faz ainda comparecer neste lugar é o arrependimento, é a tristeza. O arrependimento de nossos pecados; a tristeza por vermo-nos culpados diante de Jesus e de Maria Santíssima.

   E assim, ó Jesus, ó Maria! termino reconhecendo meu pecado e pedindo perdão. Na Vossa Paixão, ó Jesus, perdoastes a todos, Perdoai, também os meus delitos.

  Ó Jesus, fui eu quem amarrou os vossos pulsos, não foram os soldados. Não foi Pilatos que lavrou a sentença de morte, fui eu, foram meus pecados. Eu, Jesus, bati esses espinhos para que entrassem bem dentro na cabeça. Ó Jesus, não foram os soldados que vos impuseram aso ombros este pesado madeiro, fui eu, foram meus pecados.
   Ó Maria, essas lágrimas que banham a vossa face, eu as provoquei. Esta espada de dor predita pelo velho Simeão, foram meus pecados que vo-la cravaram no coração. 

  Ó Jesus, ó Maria, unidos num mesmo sacrifício por meu amor, perdoai-me porque não quero mais nesta vida renovar vossas dores e os vossos sofrimentos; para que assim pelos méritos destes sofrimentos mereça a felicidade perfeita na Pátria do Repouso eterno. Amém!
    

domingo, 5 de abril de 2020

HOMILIA DO DOMINGO DE RAMOS

   Leituras:  Leitura da Epístola de São Paulo Apóstolo aos Filipenses II, 5-11.
                     Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus, XVI, 36-75. (É a leitura de toda a Paixão de Cristo, leitura feita na Missa).

   Vamos comentar, com a graça de Deus o Santo Evangelho lido antes da Procissão de Ramos:
   Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus XXI, 1-9;



   "Naquele tempo, aproximando-se de Jerusalém, ao chegar a Betfagé, junto do monte das Oliveiras, Jesus enviou adiante dois de seus discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis presa uma jumenta, e o seu jumentinho com ela; soltai-a, e trazei-a para mim. Se alguém vos disser alguma coisa, dizei que é o Senhor que precisa deles, que logo vo-los deixará trazer. Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que tinha sido vaticinado pelo profeta, que disse: Anunciai à filha de Sião: Eis que vem a ti o teu rei todo mansidão, montado numa jumenta e num jumentinho, filho da que leva o jugo. Indo os discípulos, fizeram como Jesus lhes ordenara, e trouxeram a jumenta e o jumentinho, sobre os quais puseram as suas capas, fazendo Jesus montar no jumentinho. E a multidão do povo estendia no caminho as suas vestes, e muitos cortavam ramos de árvores para forrar com eles a estrada. E as multidões que o precediam e as que lhe seguiam atrás, gritavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!"

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   As procissões solenes de Ramos, tiveram início no século IV, em Jerusalém. Tinham por finalidade prestar testemunho público de amor e gratidão a Cristo Rei. 

   A procissão simboliza a peregrinação da Igreja nos séculos à espera da segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Criso, vinda essa que há de marcar o fim dos tempos e o aperfeiçoamento final das criaturas na eternidade. O ingresso da procissão na igreja representa o cortejo dos justos que Jesus Cristo, em força de sua Paixão, introduz no Reino dos Céus. 

   O ramo de palmeira é o troféu de vitória de Cristo, Rei Pacífico. E o ramo de oliveira simboliza a paz entre os céu e a terra, fruto da misericórdia de Deus para com os homens. 

   Eis a Bênção dos Ramos: "Aben+çoai, Senhor, vos imploramos, estes ramos de palmeira (ou de oliveira) e fazei que o vosso povo realize com grande devoção o que hoje se cumpre externamente em vossa honra, e possa com isso triunfar do inimigo e responder com imenso amor à vossa obra de misericórdia. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. 

   Caríssimos, A vida de Nosso Senhor Jesus foi um ato contínuo de caridade e de humildade.  Uma vez o povo quis aclamar Jesus como rei e ele fugiu para as montanhas. Na semana em que Ele iria morrer, aceita ser recebido em triunfo na cidade de Jerusalém, aclamado como Rei. 

   Quais os motivos que levaram Jesus Cristo a aceitar esta homenagem que antes havia recusado?

   Por vários motivos: Primeiro, para afirmar categoricamente e fazer reconhecer a sua realeza e a sua missão divinas, mostrar que é o verdadeiro Filho de Davi, o Messias prometido, anunciado pelos Profetas e esperado no decorrer dos séculos. Mas ele dirá dentro em pouco ao seu juiz e aos seus carrascos que o seu reino não é deste mundo. Será todo espiritual e celeste. Será composto de criaturas fiéis e submissas a Deus, humildes, amigos da verdadeira paz. 

   Jesus quis também dar a Jerusalém e a todo povo judaico um supremo testemunho da sua misericórdia e seu amor, vindo ao seu encontro como rei pacífico, doce e humilde, oferecendo-lhe pela última vez a paz e a felicidade.

    Quis também o Divino Mestre mostrar a alegria e o amor com que se oferecia à morte para remir os homens. "Desejo ser batizado (com um batismo de sangue) e como desejo que este batismo se realize!" E aproximando-se a Páscoa, é necessário que a vítima seja conduzida solenemente ao Templo antes de ser imolada!

    E Jesus quis provar que não será posto à morte, senão quando vier a sua hora, segundo os decretos divinos e sua vontade. Naquela mesma semana vai mostrar que não fora preso antes porque só agora é que chegou a hora do poder das trevas. 

   Com sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus Cristo quis, outrossim, preparar seus discípulos e a multidão do povo para a sua Paixão... para os predispor e animar contra o escândalo de seus sofrimentos e da sua morte. 

   Caríssimos, devemos estar lembrados que Jesus chorou ao avistar do alto do Monte das Oliveiras, a cidade de Jerusalém. E esclareceu o motivo de sua tristeza: "Se pelo menos hoje, este povo recebesse de verdade Aquele que lhe pode trazer a verdadeira paz!

   Na verdade, havia ali naquele dia, uma multidão de gente simples e pobre não só da cidade como de toda a Palestina. Quando souberam que tinha chegado Jesus, o grande profeta, o Taumaturgo, aproximaram-se e caminhavam à sua frente estendo no caminho ramos de árvores e as próprias capas para Jesus passar por cima, e em sinal de regozijo e de gratidão vão cantando: "Hosana ao filho de Davi! Bendito seja o que vem em nome do Senhor! Mas Jesus, sendo Deus conhece o coração de cada um e vê o futuro. Assim chorava porque sabia que muitos daqueles, passados cinco dias, estariam em torno dele, agora, clamando: Crucifico-O! Jesus sabia que os seus próprios discípulos O abandonariam. 

   Havia também um grande número de indiferentes e de curiosos que perguntavam: quem é este novo rei? para que é este triunfo?
   E contudo eles deviam conhecer bem a Jesus depois de tantos e tão estrondosos milagres!... Sem dúvida havia os que se guiavam pela máximas do mundo, unicamente preocupados com os seus negócios e com as coisas do século... havia pessoas prudentes, políticos hábeis, que receavam comprometer-se diante dos grandes da nação.

   Havia os Príncipes dos Sacerdotes, Anciãos, os quais tinham jurado a morte de Jesus. Mistério de malícia, de injustiça, de endurecimento que fazia derramar lágrimas ao coração misericordioso do Salvador!...

   Caríssimos, é natural que perguntemos: e hoje?... Hoje mesmo os ministros de Nosso Senhor Jesus Cristo recordam aos fiéis que, a partir de Quinta-feira Santa já é o tempo útil para se fazer a Páscoa. "Eis o vosso Rei que vem a vós cheio de doçura!...

   Falamos com lágrimas, também hoje há inimigos figadais que renegam a Jesus, e fazem, tanto a Ele como à sua Igreja, uma guerra contínua, ao mesmo tempo declarada e secreta.

   Há perseguidores, blasfemos, sacrílegos... homens como Caifás e como Judas! e se há coisa que lhes pese é que não tenham desaparecido já Jesus Cristo e a sua Igreja para erguerem em seu lugar, os ídolos de suas paixões.

   Há também pessoas cobardes e indiferentes, que conhecem a Jesus, mas procedem como se O não conhecessem... desprezam ou têm em pouco os seus mandamentos e os seus sacramentos, não querem desligar-se dos seus prazeres, ou comprometer-se diante de Caifás ou de Herodes, por se declararem seus discípulos, irem diante d'Ele, saudarem-nO e receberem-nO!... São egoístas e mudos.

   É verdade que um grande número de cristãos ouvem o apelo do divino Mestre e da sua Igreja, vêm confessar-se e comungar pela Páscoa. Mas terão eles todos as disposições que se requerem, e estão verdadeiramente resolvidos a converter-se  para assim realmente serem perdoados e poderem comungar?

   Caríssimos, excitai em vós verdadeiros sentimentos de fé, reconhecimento e amor. Para Bem acolherdes a Nosso Senhor Jesus Cristo, Nosso Rei de Amor, destruí vossas paixões, oferecei-Lhe as palmas das boas obras. Depois tende todo o cuidado de Lhe ficardes fiéis para que Ele reine neste mundo e vós com Ele reineis na Jerusalém Celeste. Amém!