SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

quarta-feira, 24 de abril de 2019

VITÓRIA APÓS A MORTE

 VITÓRIA APÓS A MORTE

                                                                                                                                                                         Dom Fernando Arêas Rifan*
    

            Estamos na semana da Páscoa, maior festa do calendário cristão, celebração da gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo, a sua vitória sobre o pecado, sobre a morte e sobre a aparente derrota da Cruz. Cristo ressuscitou glorioso e triunfante para nunca mais morrer, dando-nos o penhor da nossa vitória e da nossa ressurreição. Choramos a sua Paixão e nos alegramos com a vitória da sua Ressurreição. Para se chegar a ela, para vencer com ele, aprendemos que é preciso sofrer com ele: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). A morte não é o fim. O Calvário não foi o fim. Foi o começo de uma redenção, de uma nova vida. A Páscoa é, portanto, a festa da alegria e a da esperança na vitória futura. 
            E hoje é dia de São Fidélis, grande mártir capuchinho, em cuja honra foi construída a cidade de São Fidélis, minha terra natal. Nascido em Sigmaringa, Alemanha, doutorou-se em Filosofia e Direito na Universidade de Friburgo, exerceu com distinção e integridade a advocacia, mas, sentindo-se chamado por Deus, doou os seus bens ao seminário e entrou na Ordem dos Franciscanos Capuchinhos. Grande pregador e missionário, foi enviado a combater os erros do calvinismo, na Suíça. Lá sofreu o martírio pela fé, assassinado por um grupo de calvinistas, em 24 de abril de 1622, aos 45 anos de idade. Foi canonizado em 1745.
            Em 1781, os índios Coroados, que habitavam as margens do Rio Paraíba, no aldeamento chamado Gamboa, que já conheciam o cristianismo, pois haviam se desmembrado da tribo dos Goytacazes, pediram missionários para catequizá-los. Foram-lhes enviados Frei Ângelo de Lucca e Frei Vitório de Cambiasca que, com os índios, edificaram a aldeia e a belíssima Igreja em honra do seu confrade recém-canonizado, São Fidélis, mártir da fé.
            “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,10). Esta é a oitava bem-aventurança, com as quais Jesus começou o seu “sermão da montanha”, resumo do seu Evangelho. Assim, a perseguição e o martírio se tornaram uma característica dos seus discípulos e sempre estiveram presentes na Igreja, desde os primórdios.
            O escritor Andrea Riccardi, professor de história contemporânea na Universidade de Roma, teve acesso aos arquivos do Vaticano sobre a perseguição aos cristãos no século XX e lançou o livro “Eles foram mortos por causa de sua Fé”, de 455 páginas impressionantes sobre o martírio recente e atual dos católicos em todo o mundo. Impressiona a descrição do “holocausto” cristão no Nazismo, no Comunismo, nas terras de missões, no México, na Espanha, na África, etc. Além dos mártires da Fé, temos os mártires da caridade, da pureza e da justiça. Entre os 12.818 mártires, temos 4 cardeais, 122 bispos, 5.173 padres diocesanos, 4.872 religiosos, 159 seminaristas, além de centenas de leigos. É realmente a visão do 3o segredo de Fátima: o Papa caminhando sobre os cadáveres dos cristãos mártires que tombaram, vitoriosamente, pela sua Fé.
            Feliz e Santa Páscoa para todos, alegres na esperança de Jesus Cristo vitorioso!

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

domingo, 21 de abril de 2019

SANTA PÁSCOA

SANTA PÁSCOA

  
"Vós não sabeis que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Nós fomos, pois, sepultados com Ele, a fim de morrer (para o pecado) pelo batismo, para que assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim nós vivamos uma vida nova" (Rom. VI, 3 e 4).

 Desejo aos caríssimos leitores uma FELIZ E SANTA PÁSCOA!

Os méritos de Jesus Cristo adquiridos pela sua Paixão e Morte, subsistem para depois da Sua gloriosa Ressurreição. Para isto significar, quis conservar as cicatrizes das chagas: apresenta-as ao Pai em toda a sua beleza, como títulos à comunicação da sua Graça. Como diz São Paulo: "... (Jesus) porque permanece para sempre, tem um sacerdócio que não passa. Por isso pode salvar perpetuamente  os que por Ele mesmo se aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder por nós"(Hebr. VII, 25).

É logo no Batismo que participamos da graça da Ressurreição. É também o que diz S. Paulo, como acima transcrevemos.  A água santa em que mergulhamos no Batismo é, segundo o Apóstolo, a imagem do sepulcro (na época se administrava o batismo também por imersão). Ao sair dela, fica a alma purificada de toda a falta, de toda a mancha, livre da morte espiritual e revestida da graça, princípio da vida divina. Jesus Cristo tem infinito desejo de nos comunicar a Sua vida gloriosa, assim como teve um ardente desejo de ser batizado com o batismo de sangue para nossa salvação. E o que é mister seja feito para correspondermos a este desejo divino e nos tornarmos semelhantes a Jesus ressuscitado? É preciso viver no espírito do nosso Batismo: renunciar de verdade (e não só de lábios) a tudo o que na nossa vida é viciado pelo pecado; fazer "morrer" cada vez mais o "velho homem". Continuando o texto supracitado no início: "Porque, se nos tornarmos uma só planta com Cristo, por uma morte semelhante a d'Ele, o mesmo sucederá por uma ressurreição semelhante, sabendo nós que o nosso homem velho foi crucificado juntamente com Ele, a fim de que seja destruído o corpo do pecado, para que não sirvamos jamais ao pecado" (Rom. VI, 5 e 6). Assim, tudo em nós deve ser dominado e governado pela graça. Nisto consiste para nós toda a santidade: afastar-nos do pecado, das ocasiões do pecado, desapegarmo-nos das criaturas e de tudo o que é terreno, para vivermos em Deus e para Deus com a maior plenitude e estabilidade possíveis.  E São Paulo continua explicando: "De fato aquele que morreu, justificado está do pecado. E, se morremos com Cristo, creiamos que viveremos também juntamente com Cristo"...

Caríssimos, esta obra de santidade inaugurada no Batismo, continua durante toda a nossa existência. São Paulo dizia: "Eu morro todos os dias". É certo que Jesus Cristo só morreu uma vez; deu-nos assim o poder de morrer com Ele para tudo o que é pecado. Nós, porém, devemos "morrer" [espiritualmente falando] todos os dias, pois conservamos em nós as raízes do pecado, raízes estas que o demônio trabalha para fazer brotar de novo. Portanto, destruir em nós essas raízes, fugir de toda a infidelidade, desapegar-se de toda criatura amada por si mesma, afastar das nossas ações todo o motivo, não só culpável, mas puramente natural; libertar-nos de tudo o que é criado, terreno, conservar o coração livre duma liberdade espiritual, - eis, caríssimos, o primeiro elemento da nossa santidade. Mostra-o S. Paulo em termos os mais expressivos: "Purificai-vos do velho fermento para serdes uma massa nova; pois, desde que Jesus Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado por nós, tornastes-vos pães ázimos. Participemos portanto do banquete, não com o fermento antigo, o fermento do mal e da perversidade, mas com os ázimos da verdade e da sinceridade".

Aqui também faz-se mister uma explicação: Entre os Israelitas, nas vésperas da festa da Páscoa, deviam desaparecer das casas toda a espécie de fermento; No dia da festa, depois de imolado o cordeiro pascal, comiam-no com pães ázimos, isto é, sem fermento, não levedados (Cf. Ex. XII, 26 e 27).  Pois bem! Tudo aquilo eram apenas "figuras e símbolos" da verdadeira Páscoa, a Páscoa cristã. Naquele momento da regeneração batismal, participamos da morte de Cristo, que fazia morrer em nós o pecado: tornamo-nos, e assim devemos permanecer pela graça, uma nova massa, isto é, "nova criatura", "novo homem", a exemplo de Jesus Cristo saído glorioso do sepulcro.

Os judeus, chegada a Páscoa, se abstinham de todo  o fermento para comer a cordeiro pascal, "assim também vós, cristãos,  que quereis participar do mistério da Ressurreição e unir-vos a Jesus Cristo, Cordeiro imolado e ressuscitado por vós, deveis, doravante, levar uma vida isenta de todo o pecado; deveis abster-vos desses maus desejos que são como que um fermento de malícia e perversidade. Fermento velho são, ainda, as paixões desregradas que subvertem o coração, na revolta  contra as leis naturais e sobrenaturais, para levá-lo à condenação final. Fermento velho é, também, a vaidade que, motivando as boas obras, impede-lhes todo o merecimento divino. Fermento velho enfim, é aquele espírito mundano que, impregnando as mentes dos fiéis, leva-os a conciliarem máximas terrenas e ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim este fermento velho mina a vida espiritual dos cristãos. Envenenados por ideias mundanas ,vivem completamente alheios aos destinos eternos, apenas buscando uma felicidade efêmera. Baseados numa noção deturpada de "misericórdia" e levados por um espírito ecumênico e não missionário, aprovam os erros dos inimigos da Igreja, e a eles se conformam. Curvando-se à leis do mundo, preferem a liberdade desenfreada dos homens deste século à moral puríssima e imutável dos Santos Evangelhos.

É contra tudo isto que São Paulo alerta veementemente: "Purificai-vos do velho fermento, para que sejais uma nova massa, vós que constituís a sociedade dos filhos de Deus". Caríssimos, não mais o fermento do pecado e, sim o pão ázimo da virtude; não mais o fermento doas paixões desregradas, e sim o pão ázimo da pureza; não mais o fermento da vaidade e sim o pão ázimo da verdade que busca a glória de Deus; não mais o fermento do espírito mundano e, sim, o pão ázimo dos princípios tradicionais que nos ensinam a andar na terra com as vistas voltadas para o reino dos céus, e nos impõem a profissão integral da nossa fé sem as mesquinhas concessões ao respeito humano, e sem as vulgares condescendências ao espírito moderno.

Em um palavra: celebrar a Páscoa com o pão ázimo de pureza e da verdade.   

Não podemos servir a dois senhores ao mesmo tempo. E, se renunciamos ao demônio, suas obras que são os pecados, e suas pompas e vaidades que levam ao pecado, digo, se renunciamos a tudo isto, é justamente para vivermos para Deus. E este viver para Deus encerra em si uma infinidade de graus. Supõe em primeiro lugar afastamento total de todo pecado mortal; pois, entre este e a vida divina há incompatibilidade absoluta. Há depois a separação do pecado venial, das raízes do pecado, de todo o motivo natural; desapego de tudo quanto é criado. Quanto mais completa for esta separação, mais libertados estamos, mais livres espiritualmente e mais se desenvolve e desabrocha também em nós a vida divina; à medida que a alma se liberta do humano, abre-se para o divino, vive na verdade a vida de Deus.

Caríssimos, permaneceremos em Jesus que é a Vida, pela graça, pela fé que n'Ele temos, pelas virtudes de que Ele é o modelo perfeito. E é preciso que Jesus Cristo reine em nossos corações. É mister que tudo em nós Lhe seja submetido.  Jesus deve ser a nossa vida. Oxalá pudéssemos dizer com todo verdade como São Paulo: "Vivo, mas não sou mais eu que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim!"

Enfim, os sinos da Páscoa anunciam  não apenas Jesus Cristo ressuscitado, mas, afinados na misericórdia divina, repicam alegres, também para os pecadores, mas para os pecadores arrependidos e penitentes, pecadores que também surgiram do sepulcro dos seus pecados. E assim aproximam-se também eles do Banquete Eucarístico de uma Santa Páscoa.


Vamos resumir tudo com palavras de São Paulo: "Portanto, se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são lá de cima, onde Cristo está sentado à destra de Deus; afeiçoai-vos às coisas que são lá de cima, não às que estão sobre a terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus" (Col. III, 1-3). Amém! Aleluia!


sábado, 20 de abril de 2019

O SEPULCRO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

 Para um Deus, o sepulcro é o último grau de humilhação!
  "Aniquilou-Se a si mesmo". Só achamos uma imagem desta humilhação na comunhão. Ali também não é só Deus que desaparece, é o próprio homem, e ainda mais que na sepultura, onde ao menos conservava a forma exterior de um corpo humano. Não se abaixou tanto na Eucaristia, senão para nos inspirar a confiança de que precisávamos, para comer a sua carne e beber o seu sangue. Preparemos-Lhe no nosso coração um sepulcro, em que tenha gosto de estar. José e Nicodemos receberam o divino corpo privado de vida: nós recebemo-Lo vivo e dando a imortalidade!

 Depois da morte,o Corpo de Jesus é descido da Cruz, depositado por alguns instantes nos braços de sua inconsolável Mãe que O cobre de lágrimas, e em seguida prestam-Lhe, como aos outros homens, as honras da sepultura. É hoje que se verifica plenamente a palavra de São Paulo: "Aniquilou-se a si mesmo".


 "Seu sepulcro será glorioso". A terra e os Céus vão regozijar-se deste triunfo; felizes os vossos verdadeiros servos fiéis, porque participarão dele um dia.  É impossível deixar de ver os desígnios da Providência divina, ao permitir que se fechasse a entrada do sepulcro com uma grande pedra, e que fosse mandado selar e guardar. Com efeito, Deus queria que todas estas precauções servissem para comprovar a morte e sepultura do seu Filho; queria com isto refutar de antemão a fábula ridícula do roubo do corpo, e dar à ressurreição uma certeza que vencesse a mais obstinada incredulidade. Só Vós, ó meu Salvador, achais na vossa sepultura o princípio do triunfo que vosso Pai vos confere. Profundamente humilhado no sepulcro, sois glorificado pelo mesmo sepulcro.




Igreja do Santo Sepulcro
Caríssimos, na verdade, o sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo é uma escola de perfeição. Naquelas trevas em que se envolve, também nos diz que amemos a vida solitária, porque é muito favorável à inocência e ao progresso da virtude. É também um belo modelo de obediência: é um corpo morto. Mas admiro ainda mais a obediência que presta a seus ministros sagrados, que dispõem dele como querem, É inacessível a toda a corrupção por causa da divindade a que está unido. Também nós, se permanecermos unidos a Jesus pelo amor, conservar-nos-e-mos incorrutos embora  vivendo no mundo que é um sepulcro de corrupção. No sepulcro Jesus conserva toda a força para sair dele; também nós receberemos da nossa união com Jesus, o poder de vencer as paixões e o inferno, e como o Divino Salvador, alcançaremos também a glória da ressurreição. Amém!

quinta-feira, 18 de abril de 2019

O SANTÍSSIMO SACRAMENTO DA EUCARISTIA

   Entre todos os Sacramentos que Nosso Senhor e Salvador nos confiou, como instrumentos certíssimos da graça divina, não há nenhum que possa se comparar com o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, pois encerra, não apenas a graça, mas contém em si o próprio Autor da graça e Fonte da Santidade. Por isso não há crime que faça temer pior castigo da parte de Deus, do que não terem os fiéis devoção e respeito para com a Eucaristia.
   Ao estudarmos este artigo tão importante da Doutrina Católica, peçamos a Jesus Hóstia, por intermédio de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, que ilumine nossa inteligência e fortifique nossa vontade para uma adesão mais firme e mais profunda a este mistério de fé.
   Graças e louvores se deem a todo momento - Ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

PROMESSA DA EUCARISTIA
   No capítulo 6º de seu Evangelho, São João refere um longo discurso em que Nosso Senhor anuncia e promete a Eucaristia.
   Foi no dia seguinte ao da multiplicação dos pães. Jesus estava pregando na sinagoga de Cafarnaum quando a multidão acorreu até Ele a fim de ouvir-Lhe a palavra. Nesse discurso, depois de exigir dos ouvintes a Fé em sua Pessoa, Jesus se apresenta como o verdadeiro pão descido do céu, pão que devia ser comido - pão celeste que é a sua própria carne, sacrificada pela vida do mundo - pão que ainda não foi dado, mas que Ele dará um dia.
   'EU SOU O PÃO VIVO QUE DESCI DO CÉU. SE ALGUÉM COMER DESTE PÃO VIVERÁ ETERNAMENTE. O PÃO QUE EU DAREI É MINHA CARNE PARA A VIDA DO MUNDO".
  "MINHA CARNE É VERDADEIRA COMIDA E MEU SANGUE É VERDADEIRA BEBIDA. QUEM COME A MINHA CARNE E BEBE O MEU SANGUE PERMANECE EM MIM E EU NELE" (versículos 51 - 55 e 56).

REALIZAÇÃO DA PROMESSA: INSTITUIÇÃO DA SS. EUCARISTIA
  
   Foi na Quinta-feira Santa, véspera de Sua Paixão e Morte, quando realizava com seus Apóstolos a Última Ceia, que Nosso Senhor cumpriu o que havia prometido em Cafarnaum.
   São João, no início da narração, diz que Jesus "tendo amado os seus que estavam no mundo, até o fim lhes dedicou extremado amor". A Eucaristia é mistério de fé e também mistério de amor de Deus para com os homens.
   Após o lava-pés, Jesus tornou a assentar-se à mesa. Tomou pão em suas santas mãos, benzeu-o, partiu-o e deu-o a seus discípulos, dizendo: "TOMAI E COMEI. ISTO É O MEU CORPO, QUE SERÁ ENTREGUE POR VÓS".
   Depois tomou o cálice com vinho, deu graças, benzeu-o e o apresentou a seus discípulos, exclamando: "TOMAI E BEBEI DELE TODOS, ISTO É O MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA ALIANÇA, QUE SERÁ DERRAMADO POR VÓS E POR MUITOS PARA A REMISSÃO DOS PECADOS, FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM".

   Há quatro descrições da instituição da Eucaristia no Novo Testamento: S. Mateus, capítulo 26, versículos 26 a 29; São Marcos, capítulo 14, versículos 22 a 25; São Lucas, capítulo 22, versículos 14 a 20; São Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios, capítulo 11, versículos 23 a 25.
   São João é o único que refere as palavras da promessa; não dá as da instituição.
   A Eucaristia pode ser considerada como SACRAMENTO  e como SACRIFÍCIO. Explicaremos primeiro a Eucaristia como um dos Sete Sacramentos da Santa Igreja.
   No outro blog ZELO ZELATUS SUM  já falamos sobre a Eucaristia como SACRIFÍCIO; mas, como se trata do que há de mais santo sobre a face da terra, voltaremos aqui, se Deus quiser, a falar sobre a Eucaristia como SACRIFÍCIO.

terça-feira, 16 de abril de 2019

LADAINHA DA PAIXÃO

   (Extraía do livro "AS MAIS BELAS ORAÇÕES DE SANTO AFONSO DE LIGÓRIO").

   Senhor, tende piedade de nós, etc.

   Jesus, Rei da glória, que fizestes vossa entrada em Jerusalém para consumar a obra de nossa Redenção! Tende compaixão de nós!

   Jesus, prostrado no Jardim das Oliveiras, diante de vosso Pai, e carregado com os crimes do mundo inteiro! Tende compaixão de nós!

   Jesus, acabrunhado de tristeza, reduzido à agonia, e abismado num mar de dores! 
Tende compaixão de nós!

   Jesus, que de todas as partes de vosso corpo suastes sangue em abundância!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, atraiçoado por um apóstolo pérfido, e vendido a vil preço como um escravo!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, que abraçastes com amor o traidor Judas!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, arrastado pela ruas de Jerusalém com uma corda ao pescoço e coberto de maldições!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, injustamente acusado e condenado!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, saciado de opróbrios, coberto de escarros e contundido de bofetadas!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, vestido de um manto de ignomínia e tratado como insensato na corte de Herodes!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, flagelado, rasgado por golpes e alagado de sangue!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, coroado de agudos espinhos!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, que fostes comparado com Barrabás e a ele posposto!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, entregue por Pilatos à raiva de vossos inimigos!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, esgotado de sofrimentos e sucumbido sob o peso da cruz!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, pregado na cruz entre dois malfeitores!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, homem de dores!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, obediente até à morte, e morte oprobriosa de cruz!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, cheio de doçura para com aqueles que vos davam a beber fel e vinagre!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, que pedistes perdão para vossos algozes, tomando a defesa deles ante vosso Pai!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, que por nossa salvação sacrificastes honras e vida!
Tende compaixão de nós!

   Jesus, que expirastes na cruz por amor de nós
Tende compaixão de nós!

   Sede-nos propício, perdoai-nos, Senhor!
   Sede-nos propício, escutai-nos, Senhor!

   De todo mal, livrai-nos, Senhor!
   De todo pecado, livrai-nos, Senhor!
   Da morte em estado de pecado, livrai-nos, Senhor!
   Da condenação eterna, livrai-nos, Senhor!
   Por vossa agonia e suor de sangue, livrai-nos, Senhor!
   Por vossa cruel flagelação, livrai-nos, Senhor!
   Por vossa coroa de espinhos, livrai-nos, Senhor!
   Por vossa cruz de sofrimentos, livrai-nos, Senhor!
   Por vossa sede e suspiros, livrai-nos, Senhor!
   Por vossas cinco chagas, livrai-nos, Senhor!
   Pela vossa morte, livrai-nos, Senhor!
   Pela vossa Ressurreição, livrai-nos, Senhor!
   No dia de juízo, livrai-nos, Senhor!

   Ainda que grandes pecadores, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que por vossa Paixão aprendamos a conhecer a enormidade do pecado, por cuja causa sofrestes, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que, pela lembrança de vossas dores e sofrimentos, possamos suportar com paciência todas as penas, adversidades e doenças, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que em todas as nossas aflições, tristezas e tribulações, nos voltemos para vós para obtermos paciência, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que recebamos de vossa mão sem murmurar as humilhações, desprezos, ultrajes, perseguições, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que suportemos, a exemplo vosso as falsas acusações e juízos injustos, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que vos digneis de nos tornar participantes dos frutos de vossa Cruz, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que, pela virtude de vossa Cruz, triunfemos do demônio, do mundo e da carne, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que possamos todos os dias levar a nossa cruz e seguir-vos, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que pensemos muitas vezes na vossa Paixão com amor e reconhecimento, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que, lembrando-nos de que morrestes por nosso amor, vos amemos de todo o coração, e só para vós vivamos, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que, na hora de nossa morte, vos digneis de nos fortalecer por vossa Cruz e Morte, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Que, por vossa Cruz, vos digneis conduzir-nos à glória eterna, nós vos pedimos, atendei-nos!

   Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor!
   Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor!
   Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende compaixão de nós, Senhor!

Oremos

   Senhor Jesus, que, descido do céu do seio de vosso Pai, derramastes vosso Precioso Sangue, para remissão de nossos pecados, humildemente vos pedimos sejamos no dia do juízo colocados à vossa direita, e mereçamos ouvir de vossa boca estas palavras: - "Vinde, benditos de meu Pai". Assim seja. 

   
   

domingo, 14 de abril de 2019

SEGUNDO DOMINGO DA PAIXÃO

DOMINGO DE RAMOS
"Solvite et adducite"

S. Mateus XXI, 1-10

Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Durante três anos Nosso Senhor Jesus Cristo enchera toda Palestina com seus ensinamentos e milagres, esclarecendo as almas e curando os corpos, em uma palavra: passou, por toda parte, fazendo o bem. Um ano antes, quando a gente da Galileia O quisera fazer rei, Jesus havia-se escondido. Agora aceita a homenagem que O há de revelar como o Messias esperado. Para que os judeus não possam alegar que Ele não é o Messias esperado, tudo nesta festa vai ter um caráter expressamente messiânico. Assim Jesus escolhe a hora e adota a atitude descrita pelo Profeta. Na verdade, era o derradeiro chamamento ao coração de seus inimigos; era a demonstração irrefragável de que, se caminhava para a morte, não era nenhuma violência ou necessidade que a isso O levava.

Os povos arrebatados pela sua doutrina e tocados pelos seus benefícios, se apressam em multidão no intuito de conceder-Lhe o título mais augusto, o mais elevado segundo o juízo dos homens, isto é, rei. Se Jesus já havia recusado esta honra, foi porque o reinado que Lhe queriam dar não era o que Ele desejava e merecia. Verdadeiramente o Seu reino é mais alto, mais durável, mais vasto, um reino espiritual, sem limite no tempo como no espaço; e os Judeus pretendiam fazer dele um rei temporal, com um reinado limitado seja pela duração, seja pela expansão.

No entanto, para mostrar aos seus discípulos que Ele reconhecia somente aquele título de rei que os profetas tinham dado ao Messias, para lhes oferecer uma imagem deste reinado poderoso e respeitado que  vai conquistar pela sua morte, Ele consente nestas homenagens de uma entrada triunfante na cidade santa, na Jerusalém. Estava próximo o dia em que seria colocada em sua cabeça uma coroa de espinhos, em sua mão uma cana como cetro, um manto de púrpura derrisório sobre os ombros, quando iria ser colocado no trono da cruz, para aí receber a investidura de seu reino eterno.  O triunfo de hoje é o prelúdio daquele que terá lugar dentro de cinco dias no Calvário.

A entrada em Jerusalém neste domingo que inicia a semana na qual Jesus vai morrer está em perfeita harmonia com o retrato que os profetas traçaram d'Ele. É um rei pacífico, um príncipe boníssimo que não quebrará a cana trincada, nem apagará a mecha que ainda fumega: "Dizei à filha de Sião: eis que teu Rei vem a ti manso" (S. Mat. XXI, 5).

O que faz a beleza do triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo, não é, portanto, nem o  brilho vão de uma pompa exterior, nem o aparato do poderio e da grandeza, nem os cativos que leva atrás de si; não! O que provoca o regozijo e o desvelo dos povos  é  a vivacidade de seu amor, o ardor do seu reconhecimento, é a sinceridade de suas homenagens, é a espontaneidade dessas aclamações por ninguém ordenadas, pois espontâneas  brotam  de seus corações. Eis o que enaltece o triunfo de Jesus Cristo e o coloca bem acima dos triunfos faustosos dos conquistadores, cuja glória consiste no derramamento de sangue dos inimigos, na ruína das cidades e na miséria dos povos vencidos. Jesus Cristo, não é um conquistador nestes moldes humanos. Não, absolutamente não! Se Ele faz conquistas, é por amor que as faz; se ganha vassalos, é através de benefícios e para os fazer felizes. Aqueles que acompanham o seu triunfo são os doentes por Ele curados, os cegos aos quais deu a visão, os mortos que ressuscitou, é esta multidão faminta que Ele nutriu no deserto, é a multidão infinita de infelizes que Ele aliviou.

Caríssimos, vejamos agora o significado alegórico da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém: é a figura da entrada de Jesus na alma pela graça e pela comunhão. Embora brevemente, consideremos ambas.
Primeiramente a entrada de Jesus na alma pela graça: É um santo mistério que deve penetrar de reconhecimento aqueles em que Jesus Cristo já entrou, e de piedosos desejos e até de amorosa impaciência naqueles que se preparam para a entrada de Jesus em suas almas. Refiro-me aos pecadores tocados pela graça e que se convertem. Desculpem-me a comparação: o que Jesus mandou que seus discípulos fizessem com a jumenta e o jumentinho, aplica-se num bom sentido e alegoricamente aos pecadores: "solvite et adducite", "desprendei-mos e trazei-mos". Desligar primeiramente estas almas dos liames do erro e do pecados a que estão amarradas; desprendê-las pelo poder que Jesus  deu aos seus ministros, isto é, os sacerdotes, de os absolver de seus pecados, logo após sinceramente os confessarem com arrependimento verdadeiro. E, quando por efeito de piedosas instruções dos verdadeiros ministros de Jesus, as cadeias do erro que retinham estas almas, caírem; quando, com tocantes exortações fizerem-nos detestar o vício e amar a virtude,  então as conduzirão das trevas para a luz, das trevas da mentira e das paixões para a luz da verdade e da virtude; conduzi-las-ão do pecado ao arrependimento, da indiferença ao amor, da tibieza à devoção; é mister desprender os pecadores do mundo onde se perdem e conduzi-los à Santa Igreja onde eles encontram a salvação.

Mas os ministros zelosos de Jesus Cristo fazem ainda mais: cobrem-nos das vestimentas, ou melhor, dos méritos de Jesus Cristo, dos quais os padres são os depositários, cobre-os com a vestimenta radiosa da inocência recuperada. Pelo sacramento da penitência, que os padres lhes concederá, são-lhes dadas a graça e virtudes, e Jesus vindo então a eles pela Santíssima Eucaristia, encontram estes convertidos sua alegria e suas delícias ao entrar  em seus corações regenerados  o Seu Rei boníssimo e manso, Nosso Senhor Jesus Cristo.

E justamente a outra maneira pela qual Jesus entra numa alma é pela santa comunhão. Nisto está o extremo da bondade misericordiosa do Salvador. Há, na verdade favor altíssimo e o mais dignificante do que este prodigalizado à alma por Jesus? E assim terei necessidade de mostrar as disposições que esta alma deve apresentar para receber o seu Deus? A alma de fé, terá dificuldade em se despojar dos velhos hábitos, de seus hábitos de pecado para os lançar sob os pés do Salvador? Não arrancará ela de seu interior estes ramos luxuriantes, estes ramos vivais de suas paixões insuficientemente subjugadas? Não apresentará ela ao modesto triunfador as palmas de suas vitórias, nos combates repetidos que ela teve que travar em se preparando para receber um tal hóspede? Não fará ela sair do seu mais íntimo com todas as suas veras os mil gritos de sua admiração, de seu amor e de suas ações de graças: HOSANNA FILIO DAVID!?

 Mas, caríssimos, por nada deste mundo façamos o que muitos dos judeus fizeram: no Domingo receberam  em triunfo o Salvador e na sexta-feira da mesma semana pediram a sua morte: "Tira-o, tira-o de nossas vistas, crucifica-o!!!... Não, pela graça de Deus, jamais faremos isto, e com S. Pedro, mas com um coração mais humilde e não presunçoso, devemos dizer: "Mesmo que seja necessário morrer convosco, ó Jesus, não vos negarei". Amém! 

sábado, 13 de abril de 2019

A TEOLOGIA DA CRUZ

 A TEOLOGIA DA CRUZ 

                                                                                                                                                                             Dom Fernando Arêas Rifan*

        Domingo próximo é o Domingo de Ramos, início da Semana Santa, na qual contemplaremos os sofrimentos de Jesus Cristo e o mistério da sua Cruz, dando-nos o sentido do sofrimento em nossa vida. 
        No Domingo de Ramos, recordamos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado pelo povo. Mas era a sua última entrada na cidade santa, pois nessa semana ele sofreria, voluntariamente, a sua paixão e seria crucificado e morto. 
        A Paixão física de Jesus começou na Quinta-feira santa, à noite, no horto das oliveiras, quando ele viveu um momento de particular angústia perante a vontade do Pai, contra a qual a debilidade da carne é tentada a revoltar-se. Cristo quis sentir a repugnância natural do homem diante do sofrimento. Ali Cristo se põe no lugar de todas as tentações da humanidade e toma sobre si todos os seus pecados, para dizer ao Pai: “Não se faça a minha vontade, mas a Tua” (Lc 22,42). Este seu “sim” de aceitação muda o “não” dos nossos primeiros pais no Éden. 
        Em contraposição a certas teologias da prosperidade e da saúde, muito em voga hoje, onde a religião fica sendo unicamente um meio de fugir da cruz, a Igreja nos propõe a verdadeira Teologia da Cruz. 
        O Papa São João Paulo II, na sua Carta Apostólica Salvifici doloris, explica-nos que o sofrimento pertence à vicissitude histórica do homem, que deve aprender a aceita-lo e superá-lo, e explica: “Mas como pode ele aceitar isto, senão graças à cruz de Cristo? Na morte e ressurreição do Redentor o sofrimento humano encontra o seu significado mais profundo e o seu valor salvífico. Todo o peso de tribulações e sofrimentos da humanidade está condensado no mistério de um Deus que, assumindo a nossa natureza humana, se anulou até se fazer ‘pecado em nosso favor’ (2 Cor 5, 21). No Gólgota Ele carregou as culpas de todas as criaturas humanas e, na solidão do abandono, gritou ao Pai: ‘Por que Me abandonaste?’ (Mt 27, 46)”.
         “Do paradoxo da Cruz surge a resposta às nossas interrogações mais inquietantes. Cristo sofre por nós: Ele assume sobre si os sofrimentos de todos e redime-os. Cristo sofre conosco, dando-nos a possibilidade de partilhar com Ele os nossos sofrimentos. Juntamente com o de Cristo, o sofrimento humano torna-se meio de salvação. Eis por que o crente pode dizer com São Paulo: ‘Agora alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja’ (Cl 1, 24). O sofrimento, aceito com fé, torna-se a porta para entrar no mistério do sofrimento redentor do Senhor. Um sofrimento que já não priva da paz e da felicidade, porque é iluminada pelo esplendor da ressurreição.”
        Desejo a todos uma recolhida Semana Santa, de meditação nos sofrimentos de Cristo e de renovação espiritual, através de uma boa confissão, para depois juntos nos alegrarmos com o seu triunfo na Ressurreição, que celebraremos na Páscoa. 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

domingo, 7 de abril de 2019

DOMINGO DA PAIXÃO



S. João VIII, 46-59

"O que é de Deus ouve as palavras de Deus". 


Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Limitar-me-ei a considerar apenas algumas palavras do evangelho de hoje: as mais importantes e mais próprias para nos instruir.

"Quem de vós me pode acusar de pecado? Se eu vos digo a verdade, por que não me credes? O que é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso vós não as ouvis porque não sois de Deus".

No episódio da mulher adúltera, Jesus havia lançado aos escribas e fariseus este desafio: "Aquele, dentre vós, que é sem pecado seja o primeiro a atirar-lhe pedra". Ouvindo isto, retiraram-se um após outro, a começar pelos mais velhos, até os últimos". Agora Jesus lança a eles e a todos presentes este desafio: "Quem de vós me arguirá de pecado?" E ninguém ousa abrir a boca contra Jesus. Logo fica provada a santidade perfeita de Jesus e isto, por sua vez é prova inconteste de que Ele fala a verdade. Mas aqueles homens estavam cheios de pecados e, portanto não eram de Deus e é justamente por isso que não queriam aceitar a Verdade, a Palavra de Deus, que era o próprio Jesus Cristo, o Messias, o Salvador.

"Quem de vós me pode acusar de pecado?" Realmente, caríssimos, trata-se de uma palavra audaz, de um desafio audacioso. Quem, senão um Deus, pode falar assim? Quem, portanto, senão um Deus pode lançar em face de inimigos figadais, este desafio? Era preciso realmente estar muito seguro de si, para falar assim a inimigos tão sagazes! Jesus Cristo, com efeito, por esta palavra e outras sobre as quais vamos abaixo refletir, tem por finalidade provar aos judeus sua divindade, e é com uma profunda razão, com uma inteligência perfeita do tempo em que estamos que a Igreja coloca neste domingo a leitura deste evangelho.

Na verdade, já lobrigamos num horizonte próximo o grande sacrifício que resgatou o gênero humano; já se eleva aos nossos olhos sobre o Calvário a Cruz na qual Jesus morreu por nós. Na epístola deste dia (Hebr. IX, 11-14), o Apóstolo S. Paulo lembra, exalta esta grande Vítima e, ao mesmo tempo, este grande Sacrificador. Ele representa Jesus Cristo entrando no tabernáculo, não mais como o Sumo Sacerdote outrora, com o sangue de animais, mas com seu próprio sangue. Para entendermos  o poder infinito deste Sangue é necessário provar que a Vítima era bem aquela que reclamava a Justiça divina. Em outras palavras: para que Jesus Cristo pudesse oferecer a Deus uma reparação infinita por uma ofensa infinita, era mister mostrar que Ele era Deus. E para tanto a Santa Madre Igreja coloca para nossa meditação exatamente este evangelho da Missa do Domingo da Paixão.

Em se proclamando sem pecado, evidentemente Jesus Cristo se declara Deus. Que homem, com efeito, é sem pecado? Os escribas, os fariseus pareciam ter sido os homens que levaram mais longe o orgulho da santidade. "Eu vos dou graças, dizia o fariseu em sua oração soberba, por não ser com os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros". Pois bem, malgrado esta alta estima que tinham de si mesmos, os escribas e fariseus não ousavam acreditar que eram isentos de pecado, como já mostramos acima no episódio da mulher adúltera. Na verdade, há no homem um tal fundo de corrupção, uma inclinação tão acentuada para o mal, que se dizer sem pecado, é dizer-se mais do que um homem, ou seja é dizer-se um Deus-Homem.

"Se glorifico a mim mesmo, minha glória nada é. Quem me glorifica é meu Pai, o qual vós dizeis que é vosso Deus. Vós não O conheceis, mas eu o conheço". Não é somente por sua inocência e sua inculpabilidade que Jesus Cristo prova sua divindade, mas também a estabelece pelas obras de que Deus O faz glorioso instrumento, pelos milagres que tem tão frequentemente já excitado a seu respeito a admiração e o reconhecimento dos povos. Lá estão os doentes curados, os mortos ressuscitados, a multidão alimentada no deserto e tantos outros prodígios que encheram sua vida pública e que têm tido por finalidade provar aos povos a divindade de sua missão.

"Em verdade, em verdade vos digo: Eu existo antes que Abraão fosse gerado". Assim, Jesus estabelece também a sua divindade pela sua preexistência a Abraão e aos profetas. Foi exatamente isto que o Precursor S. João Batista já havia dito: "Depois de mim vem um homem que é superior a mim, porque existia antes de mim" (S. Jo. I, 30).Sim, Jesus Cristo existiu antes de Abraão, antes de João Batista, isto é, antes de nascer, Ele era portanto Deus
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Os judeus reagiram, não com argumentos, mas com injúrias: "Não temos razão para dizer que és um samaritano e que tens demônio?  Um insulto atroz para um filho de Israel; e um terribilíssimo para o Filho de Deus!!! Jesus não faz caso do primeiro; mas não pode deixar correr impunemente aquele outro lançado a seu respeito pelos inimigos:  -  "Eu não estou possuído pelo espírito mau. Honro o meu Pai, e vós a mim desonrastes-me. Mas eu não busco a minha glória; há quem vele por ela e julgue". Caríssimos, à uma tal injúria Jesus responde com uma mansidão sobre-humana e, não contente com isso, repete aquele apelo repleto de piedade: "Na verdade, na verdade vos digo: aquele que guarda a minha palavra não verá a morte para sempre". E então com toda fúria, os fariseus confirmam o horrenda injúria de possesso e perguntam: "Por quem te tomas?"  Jesus Cristo responde: "Meu Pai é que me glorifica, aquele que vós dizeis que é vosso Deus e não o conheceis, mas eu o conheço. Se disser que não o conheço, serei um mentiroso, semelhante a vós. Mas eu o conheço e guardo sua palavra. Abraão, vosso pai, exultou de alegria, desejando ver o meu dia. Viu-o e alegrou-se".  -  Certamente com grande gargalhada, gritaram esta frase irônica: "Ainda não tens cinquenta anos, e vistes Abraão?" E contundente, explícita e solenemente Jesus afirma sua existência antes do tempo: "Na verdade, na verdade vos digo que, antes de que Abraão fosse, eu sou". Deus é aquele que é, ou seja, Jahvé. Era a revelação de um mistério sublime! Mas os Judeus, soberbos e incrédulos, tomaram-na como uma blasfêmia e, por isso, deitaram mãos em pedras no intuito de O matar. Como não era chegada ainda a Sua hora determinada pelo Pai para morrer e morrer crucificado, Jesus, então, ocultou-se e saiu do Templo.

Terminemos com aquela palavra citada no início deste artigo, palavra esta digna de nossa meditação tanto mais por se aplicar a todos e em todos os tempos: "O que é de Deus ouve a palavra de Deus". O justo verdadeiramente coloca suas delícias na palavra santa; procura ouvi-la, medita-a, saboreia-a; faz dela seu pão, seu sustento, o pão e sustento de sua alma.  Ouve com amor a palavra de Deus porque empenha-se ardentemente em colocá-la em prática, consciente que está de nela encontrar a Vida eterna. O pecador, ao contrário, foge dela, rejeita-a, não encontra nela nem sabor nem encanto. A palavra de Deus é enfadonha ao espírito do pecador, importuna às suas paixões. A palavra de Deus derramaria luz na sua consciência; mas é exatamente isto que o pecador receia, pois ama as trevas. A palavra de Deus excitar-lhe-ia os remorsos, perturbando assim sua alma. Na verdade, o pecador se esforça por viver em paz e sem remorsos. A palavra de Deus despertaria o pecador de seu sono de morte, mas ele quer dormir, dormir na sua iniquidade.

Eis porque, caríssimos, malgrado a terna solicitude da Igreja, que multiplica no tempo da quaresma e da Paixão suas exortações maternais, um grande número de cristãos permanecem frios, insensíveis, indiferentes. Eis porque aqueles que justamente mais fome deveriam ter do pão da palavra de Deus, são precisamente os que durante todo ano dele se afastam. Por que acontece isto? A resposta que Jesus dá é terrificante: "Não ouvem a palavra de Deus porque NÃO SÃO DE DEUS". O pai de tais pessoas é o Espírito das Trevas, o pai da mentira, o maligno, o adversário homicida e invejoso das almas remidas por Jesus.

Caríssimos, sejamos mais sábios que os judeus, sejamos mais lógicos. Creiamos na palavra do divino Mestre, obedeçamos às suas leis, e não morreremos jamais, mas teremos a vida eterna. Amém!