Observação: Mais do que uma Carta, podemos dizer que é um Opúsculo de Admoestação. Ele manifesta muitos aspectos da figura espiritual de S. Francisco. Tudo indica que este Opúsculo se destina a cristãos da época, pessoas de acentuada motivação religiosa, "clérigos e leigos, homens e mulheres" que de qualquer forma sentem-se ligados a São Francisco e por quem o Santo se considera excepcionalmente responsável.
Aqui começa a carta de admoestação e exortação de nosso venerável Pai São Francisco.
"Em nome do Senhor: do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A todos os cristãos que vivem religiosamente, clérigos e leigos, homens e mulheres, a todos os que habitam no mundo universo, Frei Francisco, de todos servo e vassalo, saúda com reverente dedicação e deseja a verdadeira paz do céu e sincera caridade no Senhor.
Sendo servo de todos, a todos devo servir as odoríferas palavras de meu Senhor. Por isso, considerando que não posso visitar a cada um em particular, por causa da enfermidade e debilidade do meu corpo, fiz o propósito de comunicar-vos por meio das presentes letras e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Palavra do Pai, bem como as palavras do Espírito Santo, que são "espírito e vida" (Jo 6, 63).
1. Da Palavra do Pai
Esta palavra do Pai, tão digna, tão santa e tão gloriosa, o altíssimo Pai a enviou do céu, por seu arcanjo São Gabriel, ao seio da Santa Virgem Maria, de cujo seio recebeu a verdadeira carne da nossa humanidade e fragilidade. E, "sendo rico" (2Cor 8,9) acima de toda medida, preferiu todavia escolher, com sua bem-aventurada Mãe, a vida de pobreza.
Na véspera de sua paixão celebrou a Páscoa com os seus discípulos e, "tomando o pão, deu graças e benzeu-o, dizendo: "Tomai e comei: este é o meu corpo". E tomando o cálice, disse: "Este é o meu sangue do Novo Testamento, que por vós e por muitos será derramado para remissão dos pecados" (cf. Mt 26, 26; Lc 22, 19). Em seguida orou ao Pai e disse: "Pai, se for possível passe de mim este cálice" (Mt 26, 39). E seu suor se tornou como gotas de sangue que corre para a terra (Lc 22, 44). Abandonou porém sua vontade na vontade do Pai e disse: "Pai, faça-se a tua vontade, e não se faça como eu quero senão como tu queres (Mt 26, 42. 39).
Ora a vontade do Pai era que o seu bendito Filho glorioso que nos havia dado e o qual por nós nascera, se oferecesse a si mesmo por seu próprio sangue como oferenda de sacrifício sobre o altar da cruz, não para si mesmo, "por quem foram feitas todas as coisas" (Jo 1, 3), mas em expiação de nossos pecados, legando-nos um exemplo para que seguíssemos as suas pegadas (cf. 1Ped 2, 21). E Ele quer que todos sejamos salvos por Ele e o recebamos de coração puro e corpo casto. Mas infelizmente são poucos os que o recebem e por Ele querem ser salvos, embora seja suave o seu jugo e leve o seu fardo (Mt 11, 30).
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