SAUDAÇÕES E BOAS VINDAS

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! PARA SEMPRE SEJA LOUVADO!

Caríssimos e amados irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo! Sêde BEM-VINDOS!!! Através do CATECISMO, das HOMILIAS DOMINICAIS e dos SERMÕES, este blog, com a graça de Deus, tem por objetivo transmitir a DOUTRINA de Nosso Senhor Jesus Cristo. Só Ele tem palavras de vida eterna. Jesus, o Bom Pastor, veio para que Suas ovelhas tenham a vida, e com abundância. Ele é a LUZ: quem O segue não anda nas trevas.

Que Jesus Cristo seja realmente para todos vós: O CAMINHO, A VERDADE, A VIDA, A PAZ E A LUZ! Amém!

sábado, 30 de julho de 2016

O ECUMENISMO

Extraído do capítulo X da "CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS" escrita por D. Marcel Lefebvre em 1984.

   (...) "A palavra, que apareceu em 1927 por ocasião dum congresso realizado em Lausanne, deveria por si própria prevenir os católicos se eles se referiam à definição que lhe dão todos os dicionários: "Ecumenismo: movimento favorável à reunião de todas as Igrejas cristãs numa só". Não se podem misturar princípios contraditórios, é evidente, não se podem reunir, de maneira a fazer deles uma só coisa, a verdade e o erro. A não ser que se adotem os erros e se rejeite toda ou parte da verdade. O ecumenismo se condena por si mesmo.

   (...)

   Na linguagem religiosa, o ecumenismo se estendeu ultimamente às religiões não cristãs, traduzindo-se bem depressa em atos. Um jornal do Oeste nos indica por um exemplo preciso a maneira pela qual se processa a evolução: numa pequena paróquia da região de Cherburgo, a população católica se preocupa com trabalhadores muçulmanos que acabam de chegar para uma construção. É uma atitude caridosa pela qual não se pode deixar de felicitá-los. Numa segunda fase, vemos os muçulmanos pedir um local para festejar o Ramadã e cristãos oferecer-lhes o sub-solo de sua igreja. Depois começa a funcionar neste lugar uma escola corânica. No fim de dois anos, os cristãos convidam os muçulmanos a festejar o Natal com eles, "em torno de uma prece comum preparada com extratos dos capítulos do Corão e com versículos do Evangelho" A caridade mal entendida levou estes cristãos a pactuarem com o erro.

  Em Lille, os dominicanos oferecem uma capela aos muçulmanos para ser transformada em mesquita. Em Versalhes, pediu-se auxílio financeiro nas igrejas para "a aquisição dum lugar de culto para os muçulmanos". Duas outras capelas foram-lhes cedidas em Roubaix e em Marselha, assim como uma igreja em Argentenil. Os católicos se fazem os apóstolos do pior inimigo da Igreja de Cristo, que é o Islão e oferecem seus óbulos a Maomé! Há, parece, mais de 400 mesquitas na França e em muitos casos são os católicos que deram o dinheiro para sua construção. 

   Todas as religiões têm hoje direito de cidadania na Igreja. Um cardeal francês celebrava um dia a missa em presença de monges tibetanos que tinham sido colocados na primeira fila vestidos com seus hábitos de cerimônia, e se inclinava diante deles enquanto que um animador anunciava: "Os bonzos participarão conosco da celebração eucarística". Numa igreja de Rennes foi celebrado o culto de Buda; na Itália, vinte monges foram iniciados solenemente no Zen por um budista. 

   Não acabaria de citar os exemplos de sincretismo aos quais assistimos. Veem-se desenvolver associações, nascer movimentos que encontram sempre para presidir-lhes um eclesiástico em pesquisa, como aquela que quer chegar à "fusão de todas as espiritualidades no amor" Ou projetos pasmosos como a transformação de Nossa Senhora da Guarda em lugar de culto monoteísta para os cristãos, os muçulmanos e os judeus, projeto felizmente contrariado por grupos de leigos.

  O ecumenismo, na sua acepção estrita, reservada então aos cristãos, faz organizar celebrações eucarísticas comuns com os protestantes, assim como sucedeu em particular em Estrasburgo. Ou então são os anglicanos que são convidados na catedral de Chartres para celebrar a "Ceia eucarística". A única celebração que não se admite nem em Chartres, nem em Estrasburgo, nem em Rennes, nem em Marselha é a da santa missa segundo o rito codificado por São Pio V.

   Que conclusão pode tirar de tudo isso o católico que vê as autoridades eclesiásticas dar cobertura a cerimônias tão escandalosas? Que todas as religiões se equivalem, que ele poderia muito bem obter sua salvação com os budistas ou os protestantes. Ele corre o risco de perder a fé na santa Igreja. É bem o que se lhe sugere; quer-se submeter a Igreja ao direito comum, quer-se pô-la no mesmo plano que as outras religiões, recusa-se a dizer, mesmo entre os sacerdotes, os seminaristas e os professores de seminário, que a Igreja Católica é a única Igreja, que ela possui a verdade, que somente ela é capaz de dar a salvação aos homens por Jesus Cristo. Agora se diz abertamente: "A Igreja não é senão um fermento espiritual na sociedade, mas em pé de igualdade com as outras religiões, um pouco mais que as outras, talvez... "Aceita-se em rigor, e nem sempre, em conferir-lhe uma ligeira superioridade".

   Neste caso, a Igreja seria apenas útil, não mais necessária. Ela constituiria um dos meios de alcançar a salvação. 

   É preciso dizê-lo claramente, uma tal concepção se opõe dum modo radical ao próprio dogma da Igreja católica. A Igreja é a única arca da salvação, nós não devemos ter medo de afirmá-lo. Vós frequentemente ouvistes dizer: "Fora da Igreja não há salvação" e isto choca as mentalidades contemporâneas. É fácil fazer crer que este princípio não está mais em vigor, que se renunciou a ele. Parece ser de uma severidade excessiva. 

   Entretanto, nada mudou, nada pode ser mudado neste domínio. Nosso Senhor não fundou várias igrejas, mas só uma. Não há senão uma só cruz pela qual nos possamos salvar e esta cruz foi dada à Igreja católica; ela não foi dada às outras. À sua Igreja, que é sua esposa mística, Cristo deu todas as suas graças. Nenhuma graça será distribuída ao mundo, na história da humanidade, sem passar por ela.

   Isto quer dizer que nenhum protestante, nenhum muçulmano, nenhum budista, nenhum animista será salvo? Não; e constitui um segundo erro pensá-lo.

   Aqueles que reclamam da intolerância ouvindo a fórmula de São Cipriano "Fora da Igreja não há salvação" rejeitam o Credo: "Reconheço um só batismo para a remissão dos pecados" e estão insuficientemente instruídos a respeito do batismo. Há três maneiras de recebê-lo: o batismo da água, o batismo do sangue (é o dos mártires que confessam sua fé sendo ainda catecúmenos) e o batismo de desejo. 

   O batismo de desejo pode ser explícito. Bastantes vezes, na África, ouvíamos um de nossos catecúmenos dizer: "Meu padre, batizai-me logo, pois se eu morrer antes de vossa próxima passagem, eu irei para o inferno".

   Nós lhe respondíamos: "Não; se não tendes pecado mortal na consciência e se tendes o desejo do batismo, já tendes a sua graça em vós."

   Tal é a doutrina da Igreja, que reconhece também o batismo de desejo implícito. Ele consiste no ato de fazer a vontade de Deus. Deus conhece todas as almas e sabe, por consequência que nos meios protestantes, muçulmanos, budistas e em toda a humanidade, existem almas de boa vontade. Elas recebem a graça do batismo sem o saberem, mas duma maneira efetiva. Por aí mesmo elas se unem à Igreja. 

   Mas o erro consiste em pensar que elas se salvam por meio de sua religião. ELAS SE SALVAM EM SUA RELIGIÃO MAS NÃO POR MEIO DELA. (Destaque meu). Não há salvação por meio do Islão ou pelo xintoísmo. Não há Igreja budista no céu, nem Igreja protestante. São coisas que podem parecer duras de ouvir, mas esta é a verdade. Não fui eu quem fundou a Igreja, foi Nosso Senhor, o Filho de Deus. Nós, sacerdotes, somos obrigados a dizer a verdade.

   Mas a preço de quantas dificuldades os homens dos países não penetrados pelo cristianismo chegam a receber o batismo de desejo! O erro é um obstáculo ao Espírito Santo. Isto explica porque a Igreja tenha sempre enviado missionários a todos os países do mundo, que inúmeros dentre eles tenham conhecido aí o martírio. Se se pode encontrar a salvação em qualquer religião, para que atravessar os mares, ir submeter-se, em climas insalubres, à uma vida penosa, à doença, a uma morte precoce? Desde o martírio de Santo Estêvão, o primeiro a dar sua vida por Cristo e o qual por esta razão se festeja no dia seguinte ao do Natal, 26 de dezembro, os Apóstolos puseram-se a caminho para ir difundir a boa nova na bacia do Mediterrâneo; te-lo-iam feito se se soubesse que haveria salvação também no culto de Cibele ou pelos mistérios de Eleusis? Por que Nosso Senhor lhes teria dito: "Ide evangelizar as nações"?

   É assombroso que hoje em dia alguns pretendam deixar cada um seguir o seu caminho para Deus segundo as crenças em vigor no seu "meio cultural". A um padre que queria converter crianças muçulmanas, o seu bispo disse: "Não, fazei delas boas muçulmanas, será muito melhor do que torná-las católicas!" Foi-me certificado que os monges de Taizé tinham pedido, antes do concílio, para abjurar seus erros e tornar-se católicos. As autoridades disseram-lhes então: "Não, esperai! Depois do concílio, vós sereis a ponte entre os católicos e os protestantes".

   Os que deram esta resposta assumiram uma grave responsabilidade diante de Deus, pois a graça vem num momento, talvez não venha sempre. Atualmente os caros padres de Taizé, que têm sem dúvida boas intenções, estão ainda fora da Igreja e semeiam a confusão no espírito dos jovens que os vão ver.

   Falei das conversões que cessaram brutalmente em países como os Estados Unidos, onde se contavam cerca de 170. 000 por ano, a Grã Bretanha, a Holanda... O espírito missionário se extingue porque se deu uma falsa definição da Igreja e por causa da declaração conciliar sobre a liberdade religiosa..." 


   

sexta-feira, 29 de julho de 2016

VALOR DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA

   A Santa Missa como ação de Cristo, considerando-se o Sacerdote principal e a Vítima, tem valor INFINITO.
   Considerando, porém, a aplicação aos homens (pois a Missa distribui e aplica os merecimentos da Cruz), os frutos são proporcionados às disposições das pessoas por quem se oferece. Quanto melhores as disposições, maiores os frutos. Frutos são a nossa participação de fato aos efeitos propiciatório e impetratório da Santo Sacrifício.
   Estes frutos são de três categorias:
   Frutos gerais - são os que aproveitam a todos os fiéis cristãos, vivos e defuntos, a toda a Igreja. Daí vemos, sem dificuldade, que "todas as Missas são comunitárias (mesmo as celebradas privadamente), porquanto dizem respeito ao bem e à salvação comum de todos os homens". (Cat. Romano).
   Frutos especiais - os que são atribuídos às pessoas, vivas ou defuntas, pelas quais o Sacrifício é aplicado pelo sacerdote celebrante.
   Frutos especialíssimos - são os que competem ao celebrante, aos ajudantes e aos que assistem à Santa Missa.

   A QUEM E POR QUEM SE CELEBRA O SANTO SACRIFÍCIO?

   I - A Santa Missa, por ser verdadeiro sacrifício incluindo, portanto, a adoração, só pode ser oferecida a DEUS.
   Por que então se celebram tantas Missas em honra de Maria Santíssima e dos Santos? Quando se celebra a Missa em honra de Maria Santíssima e dos Santos, não se lhes oferece o sacrifício, mas sim a DEUS, para agradecer-Lhe as graças que lhes fez ou para obter, por intercessão deles, as graças de que necessitamos.
   Esta é a razão por que o sacerdote nunca costuma dizer: "Ofereço-te este Sacrifício, ó Pedro, ou, ó Paulo. "Mas oferecendo o sacrifício só a DEUS, rende-Lhe graças pela insigne vitória dos Santos, aos quais implora proteção, de maneira que "no céu se dignem interceder por nós, aqueles cuja memória celebramos na terra".

   II - POR QUEM SE CELEBRA?

   Ensina o Concílio de Trento que o Santo Sacrifício da Missa pode ser oferecido pelos vivos e pelos defuntos.
   A. Pelos vivos: a) Pode-se oferecer a Santa Missa na intenção dos fiéis, justos ou pecadores; b) pelos infiéis, hereges, cismáticos e excomungados: privadamente, evitando possíveis escândalos, assim mesmo para obter que se convertam a fé católica.

   B. Pelos defuntos: a) Não pode ser oferecido o sacrifício da Missa por quem não for capaz de recolher os frutos: os condenados do inferno, as crianças que morrem sem o batismo e os santos do céu. b) É proibido, por leis eclesiásticas, celebrar a Missa pelos que morreram fora da comunhão da Igreja: infiéis, hereges, excomungados - sem terem dado sinais positivos de arrependimento. Estes não têm direito aos sufrágios públicos. A Igreja, porém, permite a celebração de Missas por eles privadamente. c) Pelas almas do Purgatório para livrá-las mais depressa do purgatório.
   Se os sacrifícios da Antiga Lei já tinham virtude PROPICIATÓRIA, como se deduz do procedimento de Judas Macabeu (I Mac. XII, 44), que oferecia sacrifícios pelos seus soldados mortos na guerra, quanto maior eficácia não terá a Santa Missa, para obter a remissão das penas devidas ao pecado!

   "QUANDO O SACERDOTE CELEBRA A SANTA MISSA, HONRA A DEUS, ALEGRA OS ANJOS, EDIFICA A IGREJA, AJUDA OS VIVOS, PROPORCIONA DESCANSO AOS DEFUNTOS E FAZ-SE PARTICIPANTE DE TODOS OS BENS". (Imitação de Cristo IV, 5).

quinta-feira, 28 de julho de 2016

COMO ASSISTIR À MISSA SEGUNDO S. PEDRO JULIÃO EYMARD

   Extraído do Livro "A SANTÍSSIMA EUCARISTIA". 


   Sabemos que a Santa Missa é o Sacrifício perfeito, pelo qual oferecemos a Deus os deveres de adoração, de ação de graças, de propiciação e de impetração que Lhe são devidos, e para os quais existiam, no Antigo Testamento, distintos sacrifícios. 

   Para acompanhar a Santa Missa com mais fruto, convém pois assistir a ela no espírito do santo Sacrifício.

   Antes de iniciar a Missa, o Sacerdote, ao pé do altar, ora e se humilha por seus pecados. A seu exemplo, confessai os vossos, a fim de assistir mais dignamente ao santo Sacrifício.

   A Missa propriamente dita abrange três partes: a primeira vai desde o Introito até o Ofertório; era outrora chamada Missa dos catecúmenos.

   A segunda principia no Ofertório, terminando na Comunhão.

   A terceira compreende as orações seguintes à Comunhão.

   Primeira parte.  -  Durante o Introito e o Kyrie eleison, recordai os desejos dos Patriarcas e dos Profetas, suspirando pelo advento do Messias; a seu exemplo, desejai a vinda e o reino de Jesus Cristo em vós.

   Ao Gloria in excelsis, uni-vos em espírito aos Anjos, para louvar a Deus e agradecer-Lhe o mistério da Encarnação. 

   Às orações, uni vossas intenções e pedidos aos da Igreja.

   Escutai a Epístola como se ouvísseis a pregação de um Apóstolo ou de um Profeta, e o Evangelho como se Jesus Cristo mesmo vos falasse.

   Recitai o Credo com sentimento de viva fé, disposto a morrer para confessar cada um dos artigos da doutrina revelada. 

   Segunda parte.  -  Uni vossas intenções às do sacerdote, e oferecei a Deus o santo Sacrifício segundo os quatro deveres:
  1. Como latrêutico, isto é, de soberana adoração, oferecendo ao Pai eterno as adorações de Seu Filho encarnado, e unindo às Suas as vossas, em união com as da Santa Igreja.
  2. Como eucarístico, isto é, de ação de graças pela glória e méritos de Seu Filho muito amado, da Santíssima Virgem Mãe, e de todos os Santos; em reconhecimento por todos os benefícios que d'Ele recebestes e recebeis pelos méritos de Seu Filho. 
  3. Como impetratório, apresentando-o ao Pai eterno como penhor que nos deu de Seu amor, a fim de fazer com que d'Ele esperemos todos os bens espirituais e corporais de que necessitamos. - Exponde-Lhe as vossas necessidades e rogai-Lhe especialmente que Vos auxilie na correção do defeito dominante. 
  4. Como satisfatório, oferecendo-o em expiação de todos os vossos pecados e em reparação de tantos crimes que se cometem no mundo.

   Lembrai ao Pai eteno que tudo vos deve dar, pois que vos deu o Seu Filho, e que este divino Filho ainda Se coloca diante d'Ele, nesse estado de sacrifício, a fim de ser vítima de propiciação por vossos pecados e pelos de todos os homens.

   Terceira parte.  -  À Comunhão do sacerdote, aproximai-vos da sagrada Mesa. Se não vos for possível, fazei ao menos a Comunhão espiritual: 
  1. Concebendo um verdadeiro desejo de estar unido a Jesus Cristo e reconhecendo a necessidade de viver da Sua vida.
  2. Produzindo um ato de contrição de todos os pecados passados e presentes.
  3. Recebendo espiritualmente Nosso Senhor no íntimo de vossa alma, como Zaqueu em sua casa; - e pedindo-Lhe instantemente a graça de viver para Ele, pois que só por Ele viveis. 
  4. Imitai Zaqueu nas boas resoluções, e agradecei a Nosso Senhor que vos permitiu assistir à Santa Missa, fazendo então a Comunhão, ao menos espiritual; oferecei uma homenagem particular, um sacrifício, um ato de virtude.
   Pedi-Lhe a bênção para vós, assim como para os vossos parentes e amigos.    

quarta-feira, 27 de julho de 2016

SACRIFÍCIO DO ALTAR E SACRIFÍCIO DA CRUZ

   Sermão de São Pedro Julião Eymard.

  De todas as qualidades de Jesus Cristo, parece que nenhuma Lhe é mais honrosa que a de Sacerdote.

   Nos títulos de Salvador, de Rei, de Pastor, de Juiz, Ele considera mais imediatamente os homens, a sua Igreja; sob tais aspectos, de certo modo, aplica-Se apenas em arrancá-los da perdição eterna, em governá-los, alimentá-los, tratá-los segundo as obras.

   Na qualidade de Sacerdote, porém, eleva-Se diretamente ao Pai: adora-O por Si mesmo e presta-Lhe, em nome da humanidade, todos os deveres da religião. Por Seu sacerdócio, considera, antes de tudo, a glória do Pai celeste: é com este fim principal que Se imola em sacrifício. Se pensa também nos homens é porque, sendo Sacerdote, é Mediador: quer restabelecê-los na graça com Deus; desce até eles para elevá-los consigo até Deus.

  Portanto, a qualidade de Sacerdote é n'Ele a mais excelente.

  Ora, ensina-nos a Fé que Jesus Cristo operou a obra da nossa Redenção pelo Sacrifício cruento da Cruz. Sua morte expiou todos os pecados, satisfez rigorosamente a Justiça divina, reconciliando assim o céu com a terra, Deus com o homem.

   Entretanto, Seu amor não se limitou à imolação cruenta. Antes mesmo de morrer, Ele instituiu o sacrifício do Altar que renova o da Cruz, a fim de nos aplicar seus méritos e tonar-se o bem particular, a glória da Igreja católica.

   É meu desejo demonstrar-vos que, por esse motivo, o santo Sacrifício da Missa assume uma tríplice excelência que lhe é peculiar. Com efeito, pela Santa Missa:

   Deus é honrado sem ser simultaneamente ofendido, como o foi pelo deicídio dos judeus;  Jesus Cristo é imolado sem ser entregue à morte; os cristãos participam do Sacrifício, sem ser, como os judeus, cúmplices dos carrascos.

   De início, invoquemos Maria, Mãe de Deus, que deu à Vítima adorável a Carne e o Sangue para o divino sacrifício que, no altar, continua a ser diariamente oferecido por nós. Ave Maria.

(O sermão  continua em duas postagens: I - Excelência própria do Sacrifício da Missa; II - Máxima estima que devemos ter pelo Santo Sacrifício da Missa). 

terça-feira, 26 de julho de 2016

II - MÁXIMA ESTIMA PELO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA

   Continuação e término do sermão de São Pedro Julião Eymard: "SACRIFÍCIO DO ALTAR E SACRIFÍCIO DA CRUZ".

   Devemos ter a maior estima por esse Sacrifício e ilimitado reconhecimento para com Jesus Cristo, que o instituiu.

   1. Tenhamos primeiro a mais elevada estima por esse augusto Sacrifício. Se Deus lhe é o fim, é-lhe também o meio. É um Deus encarnado que adora a Santíssima Trindade, que satisfaz, por Sua imolação, à justiça divina. Numa palavra, é por Jesus Cristo que a Igreja presta diariamente a Deus o culto que Lhe é devido.

   Por si mesmos, os homens nada podem oferecer a Deus, nada que seja digno d'Ele, de Sua grandeza. Como poderia o finito atingir o infinito? Mas, ó bondade divina! O próprio Pai celeste nos proporciona o nosso resgate. Entregou-nos o Seu próprio Filho, e com Ele todas as coisas (Cf. Rom 8, 32). De modo que, com Jesus Cristo e por Ele, somos nossos salvadores.

   Eis o motivo pelo qual a Igreja só se dirige a Deus por intermédio de seu Filho; adora-O, louva-O, suplica-Lhe, aplaca-O por meio d'Ele: per Christum Dominum nostrum; é assim que conclui todas as orações. 

   E o Pai celeste escuta o Filho que Lhe fala, no Altar, em nosso favor, com tanta força quanto na Cruz. Assim, podemos repetir, depois de São Paulo, que Deus opera ainda todos os dias, no altar, a reconciliação do mundo com Ele: Deus erat in Chisto mundum reconcilians sibi (2 Cor 5, 19). Não exprime a palavra erat uma perpetuidade de ação, iniciada no Calvário e continuada, de maneira incruenta, no altar? ´E por isso que, na Secreta da Missa do Santíssimo Sacramento, pedimos a Deus nos conceda os benefícios da unidade e da paz, simbolizados nas ofertas que Lhe apresentamos no altar. Pois se, de certo modo, a guerra esteve misturada com a paz no Calvário, a reconciliação entre o céu e a terra acha-se pecificamente assegurada pelo sacrifício do Altar. 

   Ó admirável invenção do amor de Deus! 

   Portanto, que confiança não devemos ter no poder e eficácia desse augusto Sacrifício? Decerto que é verdade bem temível saber que podemos, a toda hora, ofender a Deus a ponto de nos perdermos eternamente; mas que consolação pensar que a toda hora também, Jesus Cristo se imola em nossa defesa e pede perdão para as nossas faltas! "É ali, diz São Cipriano, que oferecemos ao Pai eterno um presente escondido, sempre capaz de apaziguar a cólera de Deus". Assim, quaisquer que sejam os nossos pecados, repitamos confiantes ao pé do altar: "Ó Deus, olha para nós e põe os olhos no rosto do teu Ungido" (Sl 83, 10).

   2. Que reconhecimento não devemos também a Deus por tão excelente Sacrifício; que honra não prestaremos a Jesus Cristo que tanto nos amou? Pois o Sacrifício do altar é verdadeiramente nosso bem particular, dá-nos a parte pessoal nos frutos da Redenção.

   Ora, de que maneira se deve manifestar o nosso reconhecimento? "Quereis, responde São João Crisóstomo, honrar dignamente esse divino Sacrifício? Oferecei a Jesus Cristo vossa alma, pela qual Ele se imolou".

   "Eis um dever, diz Santo Agostinho, a fim de corresponder aos desígnios de Jesus Cristo que, no altar, sacrifica seu Corpo natural para demonstrar à Igreja que, no Sacrifício que Ela oferece, é também oferecida".

   Pois que o amor imola Jesus Cristo, o amor deve também imolar-nos com Ele.

   Se o amor O coloca em estado de vítima e de morte mística, devemos também morrer realmente ao pecado; para isso, fechamos os olhos às vaidades do mundo e os lábios às más palavras, guardemos as mãos de toda injustiça e o corpo, da sensualidade.

   Assim, continuamente entregues à morte por causa de Jesus, a vida de Jesus manifestar-se-á também na nossa carne mortal (Cf. 2 Cor 4, 11). 

domingo, 24 de julho de 2016

I - EXCELÊNCIA PRÓPRIA DO SACRIFÍCIO DA MISSA

   Continuação do sermão de São Pedro Julião Eymard sobre "SACRIFÍCIO DO ALTAR E SACRIFÍCIO DA CRUZ".

   1. No altar, Deus recebe um culto exclusiva e totalmente de glória.

   O Sacrifício tem por fim honrar duas grandes perfeições de Deus: a Soberania e a Justiça. O homem foi criado por Deus, d'Ele depende em absoluto e d'Ele tudo espera. Mas é também pecador e necessita de Sua misericórdia e perdão.

   Ora, no Calvário, foi o Filho de Deus encarnado que a malícia dos homens empreendeu destruir e que, ao menos, entregou à morte.

   Assim, em vez de aplacar a Justiça divina, oferecendo-Lhe expiação pelas próprias faltas, os homens se tornaram culpados do mais horrendo crime que se haja cometido.

   Bem sei que, examinando tal Sacrifício da parte de Jesus Cristo, nada há de mais santo nem de mais agradável a Deus; Sua morte é o mais ilustre testemunho de obediência, o derradeiro esforço de amor e a maior honra que prestou ao Pai. Mas que indignação não deve ter concebido esse Pai celeste, pois, considerando a morte do Filho, da parte dos judeus, era o mais execrável atentado, o mais espantoso sacrilégio que os homens poderiam consumar. Poderia até parecer estranho que Deus tenha resolvido tirar tão grande bem: a Redenção, de tão grande mal: o deicídio.

   Tal pensamento causava o pasmo de Santo Agostinho: "Quanta bona egit passio Christi, et tamen passio hujus iusti non esset, nisi Dominum iniqui occidissent": "Quão admiráveis são as vantagens trazidas ao mundo pela Paixão de Jesus Cristo, e, no entanto, é necessário reconhecer que não se teria realizado a Paixão desse Justo, se os maus não houvessem entregue à morte o Filho de Deus". 

   Portanto, o Pai eterno recebeu simultaneamente ultraje e satisfação na tragédia do Calvário. Considerando o sacerdócio de Jesus Cristo na Cruz somente quanto às aparências exteriores, quão humilhado nos aparece o divino Salvador em Sua dignidade de Sacerdote! Seu sacrifício apresenta-se encoberto por monstruoso crime; pergunta-se onde está o culto de Deus e como poderão os homens tirar proveito de um ato onde só se manifesta a sua própria crueldade.

   Quanto ao sacrifício dos altares, faz resplandecer a glória de Deus e o proveito dos homens. É o mesmo que o do Calvário, mas despojado de todas as circunstâncias reclamadas pela imolação cruenta. É a oblação toda pura: oblatio munda, anunciada pelo Profeta (Mal 1, 11); é a função própria do sacerdócio de Jesus Cristo segundo a ordem de Melquisedech (Sl 109, 4); é o sacrifício do Cordeiro divino que, sempre vivo, é ao mesmo tempo Vítima e Sacrificador. 

   2. No altar, Jesus Cristo é imolado sem ser entregue à morte.

   Embora a morte da vítima não seja a mais nobre condição do sacrifício, não deixa de ser o sinal mais sensível. Com efeito, é preciso que a vítima, para prestar a Deus completa homenagem, aceite livremente a morte.

   No Calvário, Jesus Cristo morreu porque quis: "Ninguém, dizia Ele, me tira a vida, mas Eu por mim mesmo a dou" (Jo 10, 18). Os suplícios que padeceu eram apenas um meio que deixou agir na hora determinada pelo Pai. 

   Devemos, pois, encontrar no Sacrifício do altar, para que seja um verdadeiro sacrifício, ao menos um sinal sensível da imolação da vítima ali oferecida. Sem o que, jamais poderíamos confundir os hereges que negam o valor da Santa Missa, nem crer no amor que, todos os dias, ainda imola Jesus Cristo.

   Ora, tal maravilha se realiza pela força das palavras divinas que, na consagração, separariam realmente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, se Ele não fora agora imortal.

   Assim, os santos Padres não recearam afirmar que Jesus Cristo morre todos os dias em nossos altares e que milhares de vezes se realiza em nossas igrejas o que só uma vez se realizou no Calvário. Santo Tomás cita a palavra atribuída a Santo Agostinho: "Cristo só uma vez se imolou a Si mesmo; e, contudo, imola-Se cada dia no Sacramento".

   É o que lemos também numa oração litúrgica: "Sempre que se renova a memória dessa hóstia (oferecida na Santa Missa), opera-se o fruto de nossa redenção" (Secreta do 9º Domingo depois de Pentecostes). 

   O mais admirável, porém, é que essa imolação, tantas vezes renovada, realiza-se sem que a Vítima sofra. O amor tem a glória de repetir no altar, a obra que preparara no Cenáculo e perfizera nos sofrimentos do Calvário. 

   Sim, o Filho de Deus morre, de certo modo, na instituição desse adorável Sacramento, e nos dá Sua vida antes de perdê-la na Cruz. Tanto O constrange o amor que nos dedica, que não quer esperar até ao dia seguinte; começa a satisfazer, nessa instituição, o Seu desejo de morrer por nós, desejo que tão claramente manifestara: "Eu tenho de ser batizado num batismo; e quão grande é a minha ansiedade, até que ele se conclua!" (Lc 12, 50). Assim, com que solicitude se dirigiu ao Cenáculo, a fim de celebrar a última Páscoa legal: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer" (Lc 22, 15).

   O quê! Judas não realizou ainda seu execrável desígnio, os carrascos não se acham prontos para detê-Lo no jardim de Getsêmani, e já o adorável Salvador, pondo-Se à mesa, ergue o altar onde Se vai imolar. Ele mesmo separa, com Suas palavras, o próprio Sangue do próprio Corpo. "Tomai, diz Ele, isto é o meu Corpo", e, à parte, acrescenta: "Tomai, este é o meu Sangue". Não é colocar-Se num estado de morte? Considerando apenas a força dessas palavras, não coloca o amor o corpo de Jesus Cristo num estado semelhante àquele em que logo O colocará na cruz a crueldade dos carrascos?

   Ora, Jesus Cristo não se contenta em separar assim o Corpo e o Sangue; quer também acreditemos que seu Corpo e Sangue são oferecidos em sacrifício desde então. Escutai as palavras que acrescenta, segundo o texto original: "Isto é o meu Corpo, que é dado por vós; este é o meu Sangue, que é derramado por vós" (Lc 22, 19-20).

   Mas direis talvez: apesar desta afirmação, Jesus Cristo permanecia vivo; só o sofrimento O fez morrer realmente.

   Concordo; mas admirai como, na Eucaristia, a morte se harmoniza com a vida: "Jesus Cristo, diz São Gregório de Nissa, unindo em Si as qualidades de Sacerdote e de Vítima, preveniu o papel dos carrascos e, por um misterioso gênero de sacrifício, ofereceu-Se a Si mesmo, Hóstia e Vítima. Praevento carnificis officio, seipsum, arcano sacrificii genere, hostiam offert et victimam, simul sacerdos et agnus".

   Assim, no Sacrifício Eucarístico, o que prevalece é o amor que quer imolar-Se e toma da morte tudo quanto lhe é possível. Portanto, não foi a Sinagoga a primeira a imolar Jesus Cristo: foi causa da morte cruenta. Foi a mão do amor que realizou o primeiro Sacrifício da nova Lei, dando-lhe união necessária ao da Cruz, fonte de toda graça e de toda redenção.

   3. No altar, os cristãos participam santamente do sacrifício de Jesus Cristo. - Na Cruz, Jesus Cristo padecia pela justificação e salvação de todos os homens, até dos seus carrascos. Motivo pelo qual observa Santo Agostinho: "Entregavam-No à morte, sem dúvida, mas, em última análise, não era a Ele que matavam e sim a si mesmos, salvos por Aquele mesmo que por eles Se imolava".

   No sacrifício de nossos altares, porém, não há mais, como tal, crime em imolá-Lo: ao contrário, cercam-No a fé submissa, a terna piedade, o amor ardente. O sacerdote, sacrificador visível, é santo, pelo menos o deve ser; os fiéis que se unem ao sacerdote e comungam a divina Vítima, são puros e acham-se animados pelo desejo de amar cada vez mais a Jesus Cristo.

   Portanto, o altar não é mais que o triunfo perpétuo e a glória do amor do Salvador. A Missa é a adoração perfeita prestada a Deus por Jesus Cristo, sumo Sacerdote; é a infinita ação de graças, expressa pelo Cordeiro divino. Dessa cruz mística fluem todas as graças da Redenção; as chagas abertas e gloriosas de Jesus Cristo as derramam abundantemente sobre os fiéis. Ali, termina-se e consuma-se a obra da salvação. O amor dá, o amor recebe, o amor torna-se a vida que jorra até ao céu.

   Poder-se-á dizer que não há mais, em absoluto, crimes que acompanhem o sacrifício incruento de Jesus Cristo, sacrilégios que o profanam? Ah! não deveria haver.

   Jesus Cristo foi crucificado uma vez pelo povo deicida; não deve mais ser ultrajado pelos cristãos regenerados em seu Sangue. Pagou o nosso resgate; seria, de nossa parte, espantoso atentado crucificá-Lo  em nosso coração, insultá-Lo pela blasfêmia ímpia e escarnecedora, sepultá-Lo no lodo de nossos vícios. O crime do judeu seria escusável comparado ao do cristão, iluminado pela fé e filho de Deus pelo batismo. Seria atacar a glória de Deus, seus benefícios, o dom mais excelente de seu Amor.

   Mas passemos a cortina do silêncio sobre tão triste quadro. Quero terminar com uma visão de consolação e felicidade. Bendigamos, pois, a bondade infinita de Jesus Cristo que deu à Igreja Católica o verdadeiro e divino Sacrifício do Altar.